segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

"PASSOS DE LETRAS"













Por nada se escreve tudo.
Se escreve para suavizar a dor
dizer o que se gostava de ouvir
mitigar a fome  alimentar o espirito
que preso no escuro do tempo ficou
e que sem o sentirmos passar passou.

Se escreve pra dar recados em flor
por palavras atropeladas no grito
que por nós despertam primeiro
a zanga do pensamento saír
já de si maltratado a ruir
como rio afogado sem mar
que amor não há por inteiro.

Se escreve em toada louca
na urgência tanta de escrever
que a voz cansada está rouca
sem força sequer pra dizer
que morrer é mais coisa pouca
por tanto se querer ver viver.


 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

"OLIVENÇA É NO ESTORIL"















À mesa e um par de conversas
dois copos mal cheios
debates bem humorados
que em bem pouco tempo
era notada a falta da presença.

Olá Zézinho ! dizia ao chegar 
Chegava... e as piadas
redobravam de vigor
em sorrisos bem dispostos
que o seu ar atiçava
irritado ou desabrido
em pedaços de palavras
que nos teimava contar
exibia as dores do dia
que juntava-mos ás nossas.

Cadela macho e...
bolas pra que vos quero
jogadas enfeitiçadas
por professores detestados
desculpas alinhavadas
em boas mas más jogadas
largadas entre gargalhadas
e molhadelas de bico.
Era assim a Olivença
que hoje encontrei
no mapa que desenhei.

 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

"DENTRO DA NOITE"













Era difícil o sono encontrar
sem te ver a meu lado
deitada à minha direita
junto à janela entreaberta
que logo teimavas fechar.
Como rios tornados desiguais
corríamos em leitos diferentes
em correntes de sentido contrárias
sem tempos possíveis de iguais.

Nos gestos perdidos do lamento
perdeu-se na mágoa o coração
de presumida e ocultada razão.
Os rios de contrários deram em nada
sem caudal  capaz de encher oceanos.
O sonho é terreno baldio de tormentos
coberto afogado debaixo dos panos.
Até que a tão desejada madrugada
nasça nas asas de renovados ventos.


 

sábado, 6 de dezembro de 2014

"P´RA ONDE VAIS"
















P´ra onde vais velho País
de gente boa formado
de norte a sul debruado
em praias e mar azul de verniz
castelos salpicados de memória
por tantos anos de história.

P´ra onde vais velho país
em risco de rachar partir
por gente anafada que mente
desde que nasce e pra sempre
sem pouco mostrar ou sentir
aquilo que o Povo sente.

P´ra onde vais velho País
extirpado que estás de certezas
arrancadas sem dó p´la raiz.

Pra onde vais velho País
carregado que estás de incertezas
que a gente não quer nem quis.





 

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

"HORA EXTRA"
















A passagem do tempo tende a provocar desalento
como de alergia se tratasse crescente e constante.
As frivolidades exacerbadas dos dias, trazidas no vento.
tratam mal a memória deixando-a madrasta da realidade presente
pois que ignorando todos,  tudo se torna mais ignorado.
Ardemos na fogueira dos dias incompletos sempre diferentes
e nesse arder às cegas resta inerte o pensar desalentado
já que o nada persiste continuar se como gémeo passado.

De nada vale o poder vazio se habita na consciência.
De nada vale o pensar que troça da condição de humano.
De nada vale a conduta apregoada esvaziada de experiência. 

 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

"NA CRISTA DO SONHO"



















Salta na minha prancha
vamos fazer diferente
dentro do mar longe da gente
na crista das ondas vadias 
que vivem no oceano
feitas de espuma sem mancha.
em deslumbrante viagem.

Entre abraços e beijos
partilharemos a meias
a horas tardias desejos
em casas inventadas de sereias
nos repuxos das baleias
ou nos saltos dos golfinhos
pelas esteiras das traineiras
salpicadas de gaivotas
em voos picados às voltas.

Vamos soltos na viagem
sem contar horas e dias
neste veleiro sem panos
cama e casa casca de noz
disfarçados na paisagem
por sentimentos nossos e sós.

seremos perto e constantes 
como águas rasas do fundo
disfarçados de horizonte os dois
em fundo de luzes brilhantes
que recordaremos depois.
Na crista do sonho do mundo....








 

sábado, 29 de novembro de 2014

"DA VIDA"

















Passam os dias sem por eles dar conta
em marés de calmaria... há dias
outros nem tanto assim fatalmente.
Os cabelos brancos soltam-se em devaneios
e o amor vagueia entre saudades
lembradas partilhadas e esquecidas de novo.

Os tempos são sempre horas de ponta
deixando de arrasto outrora metas e vias
que rodam e se afastam em curvas de gente.
Sobram os vícios bebidos em copos cheios
entre beijos molhados de ilusões e maldades
umas sem sentido outras ainda sem conta.

Passam os dias e o amor esse persiste
carregado na esperança de quem insiste
num abraço que abraça quem não desiste.

Às vezes o amor cola-se e ganha a partida
o sorriso ganha o tamanho da esperança
mesmo que o tempo dos dias esteja de saída.




 

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

"PLANO DE VOO"





















Solta o coração e dá-lhe asas
soltas e livres de pensar
que ele assim ao voar
nos eleva o pensamento
em prolongada e surda luta
de impedir o direito pensar.

Voa o coração
voam esperanças perseguidas
entre tempos mal voados
nas tempestades da alma
por nuvens desarrumadas
que nos passaram em vão.

Marés cheias... marés vazas
são fases dum mesmo mar
que a razão nem sempre escuta
tolhendo a vontade do ser

E nessa vontade do ser
temos de então encontrar
firme vontade e brandura
p"ra  em asas de coração voar.


 

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

"TRISTE FADO"













Cantei-te um fado
fiz-te infeliz
não era o fado
que eu sempre quis.
Mudei a letra
cantei de novo
foste-te embora
eu era estorvo.

Cantei-te um fado
que era de amor
era trinado
e eu tenor
Estava Inquinado
sem rima certa
porta aberta... decoração
de nosso amor em contramão.

 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

"DESEJO"














 
Desejo-te viver por dentro...
Conhecer-te a cada momento
é coisa a que não me atrevo.
Seria atrevido o meu pensamento
como se o desejo fosse apenas lembrança.
Guardados em gomos de felicidade
os dias tornam-se no tempo desiguais
como fugidios voos de banais pardais
entre beirais vergados ao peso da idade.
Nada deixa direito o recatado acervo
se nasce de desconhecido epicentro.
Desejos são frutos de instantes de esperança
na conta sem soma de palavras perdidas
que jazem no peito esquecidas.
Como o tempo descuidado avança
nele encontro pedaços intranquilos de saudade
que por vezes parecem não ser real vida.
Mas por fim, se em ti o olhar cansado pouso
és tranquila paisagem de intensa verdade
desconhecida, onde renovo o preciso repouso
num lento e desarrumado beijo.
Por momentos que calo neste constante desejo.
 


 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

"SONHO FALHADO"

















Ah sonho falhado...

Voas plo poder como se fosses lenda
és sopa de pobres com punhos de renda
que deixas no escuro toda uma imagem
num pais deserto só serias miragem. 
De tantos manjares sujaste a gravata
que tanto falastes sendo tudo bravata
que já és passado em nossa memória
andas corroendo toda uma história.

Ah sonho falhado...

Não passas impune outra vez de novo
virás a pagar por enganar este Povo
brincaste com algo que nos é querido
vendeste o alheio à sombra do devido.
Deixaste salários em anos de atraso
fazes as contas sempre a curto prazo
depressa mostraste que nos enganavas
davas-nos um pouco e mais tu tiravas.

Ah sonho falhado...

Prometeste muito mas deixas tristeza
apenas contaste com a tua esperteza
que sempre dizias o Povo não dorme
mas ficas calado quando ele tem fome.
Que tanto abusaste da nossa paciência
sobras-te a lata em vez da inteligência.
se pensas que a sorte te sorri de novo
nada aprendes-te lidando com o Povo.



 

"SOBRESSALTOS"

















Acordo sempre em sobressalto
de entre  as malhas do sonho
quando o sol tarda em aparecer.
Dou-me melhor com a luz do luar
é na lua que se me solta o olhar
em filamentos difusos  brilhantes.

Ao luar e no calor da lareira
fito sobressaltado as chamas
saídas da madeira de azinho.
O gato dorme anichado na cadeira
em cima do tabuleiro das damas
que jogam comigo sozinho.

Em sobressalto fico agora
olhando a escrita em que me ponho
sentado ao calor e ao luar a escrever.
Nada bate...nada rima no meu pensar
mesmo que pare por instantes
entre os ponteiros que dão a hora.

Em sobressalto está a folha de papel
intrigada com o que a espera
se parar no lume dela à beira.
A lua torna-se meia e desespera
sem calor que aqueça a noite inteira
resta o quente do azinho e o gato de mel.



 

terça-feira, 4 de novembro de 2014

"APARIÇÃO"















Surges-me do nada repentinamente
perco-me no olhar  ferve-me o sangue.
Feito ilha em mar aberto sinto-me demente
falho de movimento e de força exangue.

Recupero o movimento  mais tarde
e de atraso ser vitima sem me ver partiste.
Sinto agora que o coração tardio me arde
preso por duvidar se passando me viste.

A emoção sentida tarda em desaparecer
permanece teimosa por débil fio de memória
como se a vida teimasse em não te deixar ver.

Repetidamente surges-me de novo do nada 
já acordado vislumbro agora célere vitória
exultante por ver nascer e mim a alvorada.

 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

"OCULTAÇAO"




















Sei de um poema
que trago no pensamento
guardado.
Não consigo e lamento
que ele me não chegue aos dedos.
Não passa para o papel
nem outro lado
sinto-o na pele
por vezes...
à flor da pele
como os medos.
Se o poema me leva
fico nele tolhido
sem reação qualquer
como que perdido
de razão que vai
presa no coração
que me dá o tema
para o poema
que me não sai.

Será que são segredos
que me prendem
as palavras
ou são palavras que quero
em segredo manter
pra que ninguém
as possa vir a ler.
Fico sentado na alma
que não sei onde está
e espero pelo tempo
sem mesmo saber
que tempo vou ter de
esperar.
Sei de um poema
que tenho em mim
me acompanha
não me parecendo
que tenha fim.
E em poesia molho o olhar
sem perceber o que estou a guardar.







quinta-feira, 30 de outubro de 2014

"NEBLINAS"
















Não lembro o último beijo
na neblina da memória
mas lembro o primeiro
carregado de desejo
no inicio da nossa história.
Outras coisas mais eu lembro
se me puser a pensar
nas horas tardias
vadias
nos dias sempre a esperar
esperando o tempo passar.
É !
A memória tem destas coisas
como se de um funil se tratasse
que estreito dentro de nós
despeja momentos salteados
de tristezas e "glórias".

Pureza estranha esta nos consome
quando tudo está perdido
quando nada faz sentido
causando um vazio enorme.

E num espaço entre marés
ficamos  plasmados sentidos sem ver
na areia as marcas deixada p´los pés
que o amor de então nos fez percorrer.



 

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

"AMARRAS DE GENTE"



















Sai de uma vez da cama...
vem ver o luar
as estrelas
o cinzento da madrugada
o raiar do sol
entre as montanhas
e nós.
Vem dá-me a mão
a vontade
e a ternura
que anda esquecida
como fogueira sem chama.
Arrumemos as cinzas
na brisa
que vem do mar
em ondas de gaivotas
desalinhadas.
Repara no brilho
dos teus olhos
olhando os meus.
Ouve o sussurro
da corrente
do meu rio
deixando-te abraçar
enquanto nosso mar não chegar.

Sai de uma vez da cama... 






 

sábado, 11 de outubro de 2014

"CACOS DE VIDA"
















Sob esta luz que me aquece ou não
cá fico de novo  parecendo estar só 
Pensando no real abstrato da vida
em longo estranho e triste só li dó.
É mais um  caminho sem à vista saída 
que não sabendo  eu a razão... sinto
que vou ficando vazio de ideais
pensando se outros como eu assim estarão.
Passo nesta luz que me aquece ou não
horas teimosas que lentas me esvaziam
de destinos exaltados sem rumo à mão
como preso em laços que me prendiam.
 
Sob esta luz que me aquece ou não
vislumbro um fraco esboço de viela 
perdida em sombras que não são de ninguém 
que estando eu nela sou dela sombra também.
Sob esta luz que me aquece ou não
invento quartos de amor em pedaços de vela
salpicadas por destinos adiados de viagem
correntes perdidas sem erro nem margem.
Sob esta luz que me aquece ou não
por vezes parece que o rio nasce no mar
e que a  nascente está para nascer
partindo do nada...  pra sem querer nada dar.
 
Sob esta luz que me aquece ou não
dependo do querer voltar a fazer...
encho as mãos dum futuro que retorna o tremer
deixando-me ser... sem desejada emoção.
Sob esta luz que me aquece ou não
procuro naquilo em que me dei e perdi
sem à mão razão para a luz que se esvaneceu 
quando em vez de me  iluminar  morreu.
Debaixo desta luz que me aquece ou não... 
fico no escuro parado... pensando se tudo vivi
esperando que a sombra não pense o que já pensei
vendo eu nela um amigo... já que outro caco arrumei.




 
 

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

"AMAR DE MAIS"

















Não me ames demais !
Não me ames demais 
sem saber o que posso
eu receber
pode ser sem eu querer
que te venhas a arrepender.

Amar demais
pode apenas ser paixão
que passa lesta e em vão
sem a podermos deter
dada  a imprecisão
dos seus efeitos prever.

Não me ames demais
porque amar é exposição
da nudez do coração.
Sensação  irreverente
que sem saber a gente sente
um abalo uma explosão.

Ama com tempo e lentidão
começa por ti  primeiro
que o amor começa assim.
Se sentires então minha mão
beijar a tua por inteiro
poderá ser eu te estar amando por fim.

 

terça-feira, 7 de outubro de 2014

"INQUIETAÇÃO"















Procuro eu encontrar a tua imagem
nos dias pardacentos que lá vão
mas tudo se resume a uma aragem 
de memórias curtas d´ um só verão.
Procuro renovar esta viagem
em noites seguidas de solidão
passada em tempos sem uma paragem
de tão insana em devoluto coração.

É tudo uma enorme inquietação
formada em redondo e a crescer
sem eu saber de encontrar ocasião
para em ti  ser de novo eu a crescer.
Desligo e ligo o prazer que já foi nosso
em gestos vagos sem considerar... neurónio
que não sei se um dia querendo inda posso
ficar de bem contigo.... e com o demónio.






 

sábado, 4 de outubro de 2014

"AB-BÁ"
















Recordo muito bem
o lento fechar da porta
e o quão triste foi descermos as escadas
perante os sinais da doença inadiável
que nos olhos baços fazias por disfarçar.
Olhaste em redor resignado num adeus silencioso
ao mundo que para trás e para sempre deixavas
sabias isso e eu também.

Partimos os dois
entre palavras gastas inúteis vazias repetidas.
Fiz mal... devia ter percorrido
a beira-mar para um último e lento passeio
em renovado olhar teu ao azul imenso do mar
que no tempo me deixas-te amar.
Faço-o ainda hoje e penso nesse tempo
sempre que a maresia  me chega na aragem 
sabendo que por assim ser... meus olhos
não te esquecendo eu... são os teus
vendo o que não foi então possível ver.




 

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

"PASSOS PERDIDOS"















Percorro a cidade ao anoitecer
ofuscado em brilhos de  montras da vaidade
ementas penduradas em frases apelativas
e portas rotativas
pra interiores de prazer.

As ruas estão perdidas de interesse
vitimas de falta de alma e chama.
O papelão é colchão e saco cama
cruzado por passos  silenciosos
e gastos.

Percorro a cidade ao anoitecer
iluminado  por néons  de caridade 
armazenada em filas de fome
organizadas
que a cidade maior não quer ver.

Uma vela treme a chama
nas mãos de uma criança
um arrastar de pés indolente 
uma bengala abandonada de gente
um cão quase a esquecer o destino
uma porta de capela trancada.
A eterna sombra que tudo abraça
lentamente tudo cobre e avança 
esvaziando o doer.
Até de novo ser dia.
Até de novo anoitecer.




 

sábado, 27 de setembro de 2014

"PASTOR SENTIMENTAL"
















Bim para a montanha com as bacas e as obelhas
sou um jobem pastor da minha aldeia
as bacas  são de meu Pai as cabras de minha Mãe.

Esta quase o sol a nascer por detrás da paradela
o gado todo a pastar desatento e o cão tãobém
eu a tocar minha gaita que trago junto à merenda.

Toco até ter bontade e depois durmo ao sol
até me dar a aquela coisa e bou-me às cabras
que são a modos que as minhas namoradas.

Já podia namorar porque já tenho bigode
mas não tenhe tempo e as moças foram embora
para lá do monte prá escola dizem os pais delas.

Que escola é essa que as leba daqui pra fora
sei que elas não boltam quase nunca mais
e nunca mais bão  e debiam o gado pastar

Tenho bida bouá mas queria ber o mar  e ir embora
é longe daqui do monte que não tem que me distraia
gostaba tãobém de um dia lebar  mê gado pastar na praia.




 

"RENDAS DE VIDA"
















Fiquei  ali sentada no banco molhado
a olhar os pombos distraídos nos seus namoros.
Já não chovia e o sol começava a insinuar-se
em raios envergonhados.
Tenho ao meu lado um saco de plástico
cheio de ilusões e dois bocados de pão
já rijos e suculentos de nada.
Estou muito bem... não fosse o frio
que me atormenta os pés sem meias.
Tenho a boca a precisar de pintura
e os dentes perdidos nela ao acaso.

Preciso de um banho de amor
à tempo demais...não sei sequer
se me lembro do que isso é.
Aproximam-se crianças a rir e casais
a rir também de mãos dadas de esperança.
Ares de uma felicidade que já esqueci.
Dou felicidade efémera... a bestas onde calha
a troco de promessas e moedas fugidias
alguns impropérios e olhares desprezíveis.
A igreja que me acolhe fecha à hora certa
porque Deus cumpre os horários.

Caí neste banco para não cair no chão.
Não se pode cair onde se já caiu
perdi a noção até se tenho coração.
Revejo na mente a espaços os retratos
que me roubaram na pancada
de noites seguidas em luas de loucuras.

Tudo ficou na vila...da minha infância
só a idade deixa ainda em mim o medo
de prolongar esta dança desgraçada.
Resta-me o perdão e a dignidade 
que faço por em mim manter e desejar
mesmo sabendo que pouco tenho pra dar.

Os trapos lentamente descolam-se da pele
e os pombos foram para o átrio da capela.
Vejo de longe novos pombinhos entre pétalas
e arroz caídos do céu como milagre
entre gritos de desejos e risos encandeados
no vestido branco de cetim e seda dela.

Também o meu era assim...branco e com rendas
contrastando com o  fato preto dele
oferecido pelo Pai que lhe batia e dava prendas.

Tudo se  passa enquanto a vida e os trapos seco
debaixo dum sol hesitante como o meu é
tornando-me assim a vida e o pão ainda mais seco.






  

terça-feira, 23 de setembro de 2014

"FADO VADIO"




















Passei pela tua rua
estava nua e mais escura
sentei-me na tua porta
olhando desconsolado
tua janela fechada
bebi um copo de fado
que vinha da porta ao lado
voz de saudade e tristeza
como amor que é renegado
tal como me sinto eu
do amor que era teu.

Fiquei pela madrugada
em fados tristes e sós
duma voz que encontrei pura
parecia falar de nós
nos tempos de mais certeza
nas horas de amor fadado
do meu eu encostado ao teu
passeios de braço dado
nesta rua agora escura
que foi minha agora é tua
e da janela fechada.