1964 +/-
"Não te esqueças de regar os limoeiros"- disse-me antes de sair.
O meu Pai não era farto em me destinar tarefas para lá da permanente e que se resumia a dizer-me por tudo e por nada «estuda».
Contudo e por que em determinado período da vida, ele tinha um emprego que lhe ocupava quase todo o tempo das 24 horas, encarregava-me de vez em quando de regar algumas árvores de fruto que tínhamos no quintal e em volta da casa.
"Não te esqueças de regar os limoeiros"- disse-me antes de sair.
"Mas bem regados"- frisou-me. O conceito de regar ou seja a quantidade de água necessária para "regar bem" dele, era muito diferente do meu (como depressa vim a saber e a sentir).
Já era noitinha, (quando avisado pela minha Mãe) fui rapidamente deitar uns regadores de água nos 4 limoeiros que viviam felizes e contentes e com sede, num lugarzinho do quintal cada um bem aninhado num círculo formado por pequenos tijolos pintados de branco.
Foi rápido, 4 limoeiros, 4 regadores de água e eis a tarefa cumprida a preceito.
Chegava do trabalho o meu Pai a casa por volta das 4 da manhã e chegou nesse noite também como era habitual.
O que não era habitual era eu acordar de sopetão às 4 da manhã por um Pai danado e cansado que me pegou num braço e me levou como eu estava (em cuecas) para o quintal e depois das respectivas 4 palmadas bem ajustadas ao meu imberbe traseiro me colocou o regador na mão.
E lá fui eu assim apressado, dar à bomba, aos pés e ao rabo dorido, de novo regar os limoeiros como "devia ser" (ainda estavam com sede calculo) e eu com frio em quase todo o corpo, quase todo! Porque o traseiro, esse, estava ainda em brasa.
E lá fui eu assim apressado, dar à bomba, aos pés e ao rabo dorido, de novo regar os limoeiros como "devia ser" (ainda estavam com sede calculo) e eu com frio em quase todo o corpo, quase todo! Porque o traseiro, esse, estava ainda em brasa.
Hoje gosto de limões e sumo de limão,mas por cada um que toco "alembro-me" daquela noite fatídica em que tanto susto e trabalho eles sem saber me deram.
Quando voltei para a cama já o meu Pai ressonava (nessa altura os Pais ressonavam) e eu resmungava azedamente contra a necessidade de ter de afogar os limões, como se um simples regador não chegasse para lhes matar a sede e o trabalho a mim.
Outros tempos, outros limões mas vou ter de novo de os regar, agora que também tenho um limoeiro no quintal do bairro amarelo.
Espero que não morra de sede.