segunda-feira, 28 de junho de 2010

" A A1 " - 1º troço



Faço, agora regularmente às horas mais díspares a autoestrada do Norte a famosa A 1 .


Já me conhece o funcionário da área de serviço de Pombal que fica mais ou menos a meio do caminho e onde já me chamam o cliente das 4 ou 5 horas da manhã tal é já a frequênciao com que lá compareço para um descafeínado e uma bola de berlim.

Já no liceu gostava de comer por guloseima uma bola de berlim e pedia para isso os 5 tostões (qualquer coisa como 1/2 cêntimo) à minha mãe para a extravagância. No verão era um gelado de 1/2 cêntimo também, aliás era a mesma pessoa a vender logo à saída da estação de Oeiras.

Andava eu portanto na altura no Liceu Nacional de Oeiras , devo dizer que com o Salazar era tudo Nacional, era o Estádio Nacional era a Assembleia Nacional, eram as estradas nacionais etc etc.
Ele verdade seja dita, não queria nada para ele, era apenas tudo Nacional até o País era Nacional e dele.
Todos o enganavam menos a governanta presumo.
Os presos politicos eram Nacionais e a policia qualquer que fosse era Nacional ou Nacionalizada. Eram sempre a bem da Nação as medidas que tomava quer fosse a de distribuír tareia, quer fosse a torturar, quer a prender, Era tudo Nacional e o que é Nacional é bom.
Hoje em dia neste aspecto Portugal continua na mesma: todos fazem tudo a bem do País, apenas mudou a terminação.
Percorro o asfalto no meu ritmo de cento e qualquer coisa e penso na outra estrada a que me lançaram já no século passado.
Não desvio o olhar e percorro as teias do pensamento detendo-me nos pontos mais escuros da autocritica da vida.
É neles até que vasculho e me analiso melhor para melhor ver as asneiras cometidas e elas são tantas que as enormes rectas da A1 se transformam em autênticas gincanas.
O meu Pai de herança deixou-me dois conceitos de vida muito básicos : O Trabalho apoiado no conhecimento e daí o slogam diário do «estuda que ninguêm te manda trabalhar como me fizeram a mim» e a honestidade.
Segui ambas mas de uma forma muito desastrada. Trabalhei sempre e trabalho mas a parte do estudo esqueci de todo. Estudei as melhores maneiras de não estudar e isso consegui com distinção até me tornar adulto.
Quanto à outra permissa desejada a Honestidade, aí cumpri totalmente para mal dos meus pecados, pois de que serve ao iletrado ao pobre e ao trabalhador ser honesto ? quase de nada na minha opinião a não ser o ser roubado e espoliado e explorado pelos outros que...estudaram de tudo na altura própria.
É como alguêm me dizia « trabalhas tanto pá !!!...mas os burros também trabalham e não passam disso mesmo burros»
Era e é verdade que não podem todos estudar nem podem todos ter estudos porque senão a sociedade parava, têm de haver quem faça de burro de carga e têm de haver quem monte o burro.
A minha vida, foi assim logo mal estruturada de início. Com mais bola do que táctica com mais namoro que paixão e com mais rádio que leitura.
Cofesso que sempre li muito mas muita merda confesso eu li também e essa na memória nada deixa que se aproveite.
A falta de cultura na minha opinião pode co-existir com a leitura como a mosca co-existe com a merda que seca e fede e não acrescenta nada à mosca. Por outras palavras,vale mais lêr merda do que não ler merda nenhuma mas o resultado é pouco gratificante.

Penso nestes aspectos falhados de uma vida e desejo não ter de lidar mais com eles.
Vejo-os contudo ao meu redor como uma praga, todos os dias e de todas as formas nos tempos que correm.
Vejo pessoas novas de idade que para eles cultura é apenas uma palavra muito pouco usada. Podem usá-la e usam muito como ponto de referência e pouco mais. «Vou ver o Tony Carreira -aonde ?-ao largo do centro de cultura»
"Isso é para gente culta" é hoje em dia ainda uma frase actual. É uma frase banal em gente jovem em Portugal.
Penso no jovem que fui e no paralelismo (que só agora vejo) existente com esta massa sem nome e sem cultura que me advogo a neste troço de auto-estrada aculturar.
Tarde piaste! tento seguir a corrente e deixo passar um que vem em máximos. Vou parar por aqui ! estou no Pombal sá faltam 120 km.


Ps:
Promovi a Lua a planeta pelo que como jornalista de 3ª classe passa ela também a participar com artigos da sua lavra aqui neste blog. Atribuí-lhe a área do desporto até por ser um pólo da cultura cada vêz mais emergente nas sociedades atrasadas como a nossa.