Desamarro-me por fim de sentimentos
outrora submissos secados nos anos.
E deixo o fogo lavrar a eito pela memória
seca e dura como rocha indeterminada.
Descubro palavras velhas repetidas de mais
saídas com raiva por tão estranha boca
boca fina mal desenhada falsa de história
parida e prematura em promessas escondidas
de conluio com interesses avaros carnais
animada de amizades de ardor destituídas
assentes numa peça qualquer inventada.
É como rio que nascesse no mar.
Deixa-se que ele engula a terra a eito
sem margens que marquem visível leito
num peito sem jeito falho de intenção.
Apenas se trata de repetida omissão
seca rude inválida arrasadora e louca.
Por vontade própria deixo o lume lavrar
a nada leva este arder de cinza pouca
embargando o sono que se apaga na aurora
sendo que o fogo é guardador de segredos
ardendo sem chamas pela noite afora.
Não há algemas que a mentira amarrem
desfazendo o sonho em areia
ou perdido vento em aragem.
Não há fogo que arda sem ajuda
nem fumo que dele se esconda
mesmo que nele pensando se cuida.