sexta-feira, 9 de setembro de 2016

"ÀS VEZES"















Às vezes escorrega-se-me o sono
fixo o olhar no breu do meu canto
traço um fio de arame fino que imagino
e nele penduro aleatoriamente memórias
que me atravessam sem pedir licença
para entrar por nunca terem saído.
São pequenos acasos já extintos
pelo tempo que recupero ao acaso
dos metros de vida corridos que têm 
o condão de me ainda causar espanto
mesmo no escuro estando mergulhado.

Não sei se posso deles ser exclusivo dono
que o amor e a lembrança sendo encanto
trazem rasto de mudança causada ou desatino
quais velhos livros semeados de más histórias
que lidos sem ver nos dão tamanha parecença
de tal coração que do peito se tenha esquecido.
São pequenos acasos extintos
do trote que transformamos em curto passo
na direção da verdade sem avisar ninguém
que pudesse sentir o mesmo tipo do tanto
se no escorregar do tempo à sono embrulhado.

E no fio do arame dança ao vento a vida
dos que esquecidos amamos e amámos
mais os outros que no tempo partir deixámos.

 

terça-feira, 6 de setembro de 2016

"PODE SER RIO"













Correm o tempo rios e pensamentos difusos
prolongados como o cansaço que provocam
baralhando as razões entre bons e maus usos.

Sobra a resistência que lhes faz frente
num labirinto de ideias que nos impele
a delas sair fugindo em tempo decente.
São rudes de travar os dias embrulhados de pele
envolta que revemos em papel sem preço certo
como nascidos fossem de sonhos por desbravar.
 
O amor é assim rio que consegue desaguar
mesmo que ferido de mágoa ou destino incerto
sabe que seguindo em frente acaba por ser mar.
A confusão serve-se quente em pratos rasos
para não ficar privada da mais desejada verdade
mesmo que cegos sejam a vontade dos acasos. 

O rio feito amor sacia o eu e as ervas  daninhas
que nascem e crescem sem ser preciso regar
morrendo dentro do tempo se as soubermos notar.