quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

"BAGO DE UVA"













Deixei a porta encostada
para tu puderes entrar
quando saísses.
Fiquei na almofada
parado a não olhar
que fazer se tu partisses.

Senti bagos de uva
com sabor desconhecido
que não soube recordar.
Chorava a janela de chuva
vento que uivava perdido
na direção do teu mar.

Deixei a porta encostada
mas tu levaste a chave
sem o meu conhecimento.
Tinhas decisão tomada
outro ninho outra ave
saída de um mau momento.

Deixei a porta encostada
mas o vento ela fechou
para que não voltasses.
Tinhas saído do nada
quando o corpo me acordou
como brisa te tornasses.


 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

"EVAPORAÇÃO"



Deixo cansado
que o meu rosto se esconda
entre os teus cabelos desarrumados
e fecho-me.
Nasce e sai-me
uma gota do olhar
fechado.
Transparente como o nada
desce e contorna devagar
teus olhos rasgados
rolando depois
pela tua face antes beijada
até se deter nos lábios de nós dois
hesitante.

Percorre-os demoradamente
como se neles um templo vislumbrasse.
Um pequeno movimento de nós
numa imperfeita harmonia
deixa que se solte
de onde estava deslumbrada
e desenhe de novo do nada
o teu seio como se não reparasse
que são dois...Depois
o desenho perfeito
e novo efeito...Cresce o encantamento
perante o deserto morno e quente
ondulado da respiração pausada
que sente.

O deslizar sofre de menos gravidade
deixando a gota mais lenta 
no seu caminho decidido
rumo a um fim desconhecido
dela e de mim
adormecido.
Lágrima e felicidade
desapego suave e amor
que me devora.
Que de ti sai e do teu leito
ele também transparente
mas perfeito
já que a gota num repente
se evapora...