sexta-feira, 18 de maio de 2012

"ALEMBRANÇAS" 6

1960 +/-



Esta aventura foi partilhada pela minha irmã, que tinha e ainda tem uma certa propensão para as coisas do Carnaval.

Alembrou-se por isso de numa noite meio chuvosa  mascarar-se ela e ao irmão pequeno (eu).
Arranjámos (melhor arranjou) uma maneira de com lençóis,umas farinhas e mais uns toques de batôn vermelho vivo  de modo que a ficar-mos assim a modos que uns fantasmas mal arrumados.
O alvo da nossa brincadeira era a nossa vizinha para começar a noite.

Lá fomos, (eu atrás), pé ante pé com uma vassoura ou duas às costas, preparados para pregar um grande cagaço.
Subimos as escadas batemos à porta e quando abriram demos uns gritos e do lado de lá, também deram ainda mais gritos.

O problema começou justamente pelos gritos.
Do lado dos assustados os gritos multiplicaram-se por todos e nós assustados descemos a quatro as escadas para fugir da gritaria gerada e das pauladas prometidas.
Corremos (era noite cerrada) rua abaixo embrulhados nos lençóis e no susto que se tinha virado contra nós.
Atrás de nós corriam os alvos da nossa inocente partida com vassouras, paus, e gritos de «agarra estes malandros que iam matando a Avó e assustaram as crianças».

Só nos restava mesmo fugir para não ser descobertos.
Em casa, a nossa Mãe assistia à tourada  provocada  por tão simples brincadeira de boca aberta  entre persianas .
Lá fomos e nos embrenhámos por um terreno enlameado que descia até junto ao ribeiro que hoje bordeja os campos da pétanca.
Atrás vinham os paus, pedras e a gritaria que não parava de aumentar...«Malandros...vão levar... havemos de os descobrir...cabrões » e outros adjectivos que na fuga só ouvíamos por metade.

Passaram-se neste escabeche pelo menos duas horas e duas horas passámos nós embrulhados em medo, lençóis, lama e frio, deitados debaixo da escuridão e em cima da terra baldia molhada e "fôfa" de tanta chuva que caía.

Para agravar a situação, a lista de perseguidores aumentou com mais um elemento da familia que descansadamente ia para casa vindo do trabalho mas que, perante o arraial montado se juntou à caçada dos fantasmas.

De fantasmas já nada tínhamos, éramos mais parecidos com umas almas penadas tal o estado em que nos encontrava-mos.
Passou aquilo que nos pareceu uma eternidade e nós deitados no escuro e nos tremores já de frio a valer.
Estavamos molhados, descalços e sem saber o que fazer a não ser estar escondidos.

Lentamente, os nossos pretensos carrascos, perante a frustração da perseguição e porque também já o frio o cansaço e a rouquidão os abanava, foram-se afastando de regresso a casa.

Permanecemos à cautela mais uns largos tempos emboscados na papa de lama que nos envolvia, já não sentía-mos a chuva nem a sujeira que se nos tinha agarrado aos lençóis aos pés ao batôn e à brilhante ideia original que tinha criado tal pandemónio. 

Apenas o frio nos cavalgava e tremíamos, já não de medo mas da suspeita que a tourada podia começar de um momento para o outro ao irmos para casa.

Num estado digno de dó, lá fomos de lençóis ás costas,cansados e barrentos dos pés à cabeça e sem vassouras (dando uma grande volta por outros terrenos) a caminho de casa.
Com a brincadeira, já passava da meia noite quando saltámos o muro para o nosso quintal ao arrepio de tudo e todos.
A nossa mãe estava zangada e arrepiada do burburinho que tínhamos (tinha a autora moral) arranjado com as ideias carnavalescas.

Foi o banho que nos salvou e limpou as mazelas daquela noite inesquecível.

De uma simples partida de carnaval a noite tinha-se colorido acima das nossas expectativas iníciais.
Passámos de assustadores a assustados e de fantasmas reluzentes e decididos, a uns autênticos montes de lama e  frio.
Por muito tempo se falou dos fantasmas e muito se alvitrou sobre quem teriam sido os tratantes, mas passámos incógnitos penso que muitos anos.

Claro que a culpada mór da cena embora (tal como eu) não ganhando para o susto, ainda hoje está pronta para uma partidinha do género.

O pior é se é de novo preciso fujir.

"RECADOS DO CÉU" IV

Passo horas sózinha
                                            tenho tempo para pensar.
Este mundo... Mundo é lindo
mas temos que o deixar.

Ao falar nestas palavras
choca-me o coração.
Se todos pensassem bem
este Mundo é uma ilusão.

É muito triste sim
não temos que discutir.
Pois quando vier a morte
nós teremos de partir.


                                                             Maria Rosa Pereira

quarta-feira, 16 de maio de 2012

"SONHO DE MAIO OU TALVEZ NÃO" II




Se em Maio de 2010 atravessei o pensamento entre kácus e me questionei sobre o rumo a dar aos kácus e ao pensamento.

 Já em Maio 2011 divaguei o olhar dos dedos entre factos e personagens feitos de kácus e os seus efeitos maléficos na vida que nos vai escorrendo pelos dedos, que nos escapa como sociedade e que lentamente nos vai expoliando de esperança.

Passados dois anos o "Maio o mês do pensamento" continua a ser um espaço de  tempo em que a negritude do horizonte prevalece sobre a luz que se pretende vislumbrar.

Como se a falta de projeto de vida não fosse só por si  um dos maiores  dramas para milhares de jovens, a crise Nacional e Europeia teima em fazer da vida quotidiana das sociedades mormente a Portuguesa uma verdadeira aventura.
Soma-se à baixa de rendimentos das famílias, a baixa de produtividade do País e a subida em flecha do desemprego.

O desemprego jovem é uma constante por toda a Europa,contudo mais grave ainda é a chegada de novos desempregados com idades entre os 45 e 60 ainda longe da idade da reforma (65) e esses sim, sem a miníma chance de voltar a ter um emprego.

Dirse-ía que são desempregos a dobrar dado que à pouca prespectiva dos jovens (dos filhos) junta-se a penosa realidade de até os Pais ( por vezes o  casal) se verem  na impossibilidade de prover o sustento da comunidade familiar.
Assiste-se ao regresso à  casa paterna de filhos e filhas e respetivas famílias depois de tudo ou quase tudo terem perdido.

Como agora se sabe, era errado a compra de casa própria com recurso ao credito bancário logo (na maioria dos casos) no início de carreiras e constituíção de familia.
Como agora se sabe,  não tivemos uma politica de arrendamentos durante muitos anos credível e justa  para inquilinos e senhorios.

O resultado em época de crise global, é o que se nos depara actualmente com a falência de milhares de familias e a subsequente entrega na maioria dos casos das casas aos bancos.

A necessária mobilidade para o  mercado de emprego dentro e fora do país é  muitas das vezes
afetada pela  propriedade, tendendo esta em muitos casos a  funcionar como âncora  atrapalhando assim a necessária  disponibilidade profissional em diferentes lugares e  em curto espaço de tempo. 

Com cerca de 800 mil desempregados (oficiais) 1 milhão (oficiosos) em Portugal  o resultado que se adivinhava em Maio de 2010  confirma-se.
É a constatação (então por mim observada) de que estávamos a caminho do estado de kácus geral.

A mudança de governo só por si apenas demonstrou o quanto de mau esteve a ser feito durante anos ao País e aos Portugueses, na outra Europa o estilo foi diferente para melhor sim, mas não muito, como de resto se observa. 

Os Portugueses viram-se confrontados com a realidade finalmente,sendo que mesmo desta vez nem sempre lhes foi explicado o procedimento correto a ter, nem explicado foi o critério das medidas a tomar e as suas consequências nos tempos mais próximos.

Sucedem-se por isso as falhas, as demoras e os erros de casting no cumprimento de um guião que não foi por nós escrito, mas que vai ser por alguns de nós  interpretado.
Diria mesmo que o filme prima por um excesso de actores secundários exclusivamente o que o torna de todo injusto  e  inconsequente.

Vive a Europa o perigo de implosão senão tanto pela Grécia, mais pela insustentável degradação financeira e social com que outros estados nucleares (casos da Espanha,França e Itália,) estão confrontados.
Portugal mais adiantado na degradação está sujeito e exposto  perante forças e interesses que não controla nem sabe como controlar.
Fazemos como  que uma espécie de navegação assistida por control remoto.

O mês de Maio é por isso um mês rico em acontecimentos e propício a exercícios de futurologia mentalo- diarreica.
Em Portugal, este  Maio apesar dos kácus que nos infestam, tem sido pródigo em acontecimentos mais ou menos inesperados:
Promoções do Pingo Doce com um espalhafato digno dos saldos do Harrods, relegando até para segundo plano as manifestações do 1ºde Maio.
Os casos de faca e alguidar nos serviços secretos (dignos de qualquer tasca da CIA).
O sempre concorrido 13 de Maio de Fátima com 20 toneladas de velas queimadas.
A sempre notícia da escolha dos 23 heróis nacionais para a seleção.
E por fim, "isso mesmo" por fim, o tal milhão de desempregados do nosso desespero, mais a crise diária de (quase todos) os Portugueses.

No meio desta desgraceira "Maioana" resta esperar e desejar que entretanto uma réstea de bom senso nos venha a tempo iluminar sob a forma de umas  medidas para:
A Justiça.
O combate ao compadrio e à corrupção.
Algumas (muitas) medidas para atraír o investimento estrangeiro e privado e já agora uma pequena luz ao fundo do tunel.

Como se vê tudo coisitas de "lana caprina".

A ausência  delas contudo é o suficiente para um Maio de 2013 rico e próspero em desesperos da mais variada ordem.

Por mim, já tive Maios piores ...A ver vamos ! «Maio Maiás mês em que nasceu o rapaz» (como dizia o meu Pai).