Noite de Carnaval lá fora.
Carnaval... o meu vencimento mensal.
Tenho vontade imensa de comemorar.
Não recebo bem nem nada.
Pago com o corpo de cansaço
quando a madrugada chegar.
Depois é sair solta e brava com a vida
que perdi em mais uma noite de entrega
cansada e dormente.
Muito (sempre) muito trabalho
com a doença e o doente
que todos em festa esquecem
que ninguém como eu sente.
Também eles... estão esgotados
de esperar um "cabeçudo" ausente.
«A minha filha não veio nem meu neto
que é tão esperto».
O Carnaval da nossa corda bamba
dança-se aqui na noite comprida
entre olhos de esperança encovados
ao ritmo de um triste conhecido samba
que se ouve em surdina de sons amanhados
da rua e da praça de Carnaval perdida.
Se de um traço imagino... sem querer tua imagem
percorre-me em sobressalto enorme confusão
que se escoa doendo como água turva em viagem.
Vestido de carne humana em pedaços sem alma
fica-me o corpo só... desumano e vazio de ternura
sendo não chama ardente e viva... mas pavio de cabelo.
Se o traço negro desastrado... da calma memória
sai ... Sobram luzes ridículas de fonte insegura
não azul... laranja ou cinza... mais cor de gelo.
Cogito ausente acusações pensadas e demais patéticas
privadas de luz e céu... como fantasmas em baú sem história
cobertas por um ilusório mas triste e espesso véu.
Deslizo sobre palavras em osso... esqueléticas
de acusações e desilusões ... famintas de carinho.
O traço mesmo arabesco é no fim... Fim dum caminho.