terça-feira, 8 de novembro de 2011

"O QUINTAL DO MEU PAI"



O meu vizinho tem um quintal  grandote, onde diariamente passa horas (ele e a mulher) a plantar ou a semear a regar e  a tratar da saúde aos grandes frangos e galos quando não coelhos que criam numa capoeira minúscula mas "acolhedora"
(escusado será dizer que a saúde dos bichos de tão bem tratada depressa os leva para a arca congeladora que possui na garagem).

Tomates,curgettes,abobaras,figos,e até por vezes umas enormes metades de frango são algumas das ofertas  com que de tempos a tempos nos regala tal o excesso de produção.
É simpático da parte dele e nota-se com facilidade que os tomates ou qualquer outro produto são de boa e diferente qualidade (para melhor), do que os produtos do vizinho do Pingo doce.

Um dia destes, estava a olhar para o quintal do meu vizinho (antigo operário industrial ao que sei) e lembrei-me que também o meu Pai tinha um quintal que tratava nas horas vagas e não vagas.

Fazendo por esparsas lembranças a analogia, logo me saltou à vista uma realidade que até então não me tinha ocorrido.O quintal do meu vizinho embora um pouco maior do que o do meu Pai é uma autentica SELVA!.
Passo a explicar:

Ele planta as coisas que acha dever plantar mas sem qualquer arrumação ou seja é couves pelo quintal  perdidas é tomates pelo quintal achados e há  por onde calha vasos com flores ao deus dará, as árvores de fruto por onde deu mais jeito crescem e a  inevitável estrumeira mora junto ao portão da entrada.

Batatas não semeia  talvez porque seja preciso cavar a terra mas para o feijão verde faz umas gaiolas que mais parecem um exercício de canas e paus a esmo que por milagre se conseguem controlar numa vertical mais ou menos duvidosa.
A rega é de mangueira mas aí nada a contestar, os poços não se compram fazem-se quando é possível.

O quintal do meu Pai, que era cuidado e ordenado com cada coisa no seu lugar....  Parecia um jardim.
As tardes de Domingo eram destinadas a tratar daquele trabalhoso e útil  hobby quer fosse a plantar, semear,  regar ou simplesmente reparar.

O poço a roldana a bomba e a  Martine !
Tínhamos um poço bem fundo que nos dava água "bebível" à luz da higiene desses tempos e uma bomba que tinha já substituído o velho balde que subia e descia pela roldana encavalitada em triângulo por cima .
Ao lado havia o tanque que com a bomba se enchia mais ou menos numa hora "pedalando" bem.

Depois era um regalo ver a água encarreirada com destreza e perícia pela sachola que o meu Pai manejava  para os canteiros certinhos e alinhados em duas ou três fileiras ao longo da área destinada.

Tudo batia certo e tudo era bem regado e toda a água tão lenta diria a entrar no tanque se esgotava mesmo de forma parcimoniosa em poucos minutos.
Lá se voltava a dar corda à bomba e aos braços por mais uma hora e assim se enchiam e vazavam quatro ou cinco tanques numa tarde.

Tínhamos variadas árvores de fruto, batatas, cebolas, feijão verde.alfaces, tomates,e tudo o mais que se costuma ter, até melões e uvas em latada, mas o que é mesmo de relevar, era o aspecto cuidado da horta em si no seu conjunto.
É esse ponto, o aspecto... O que mais me chamou à atenção aquando do olhar descuidado que lancei sobre o quintal descuidado do meu vizinho.

Eu pouco fazia e pouco produzia nesta rotina agrária das tardes de Domingo.
De quando em quando dava à bomba mas sem a genica que os braços musculados do meu Pai imprimiam à rotação do engenho pelo que era afastado por falta de rendimento.

Não imagino nos dias de hoje alguém usar o método então usado, era um esforço enorme ainda que saudável,  exigia tempo e tempo hoje não há.
Não há tempo e não há hortas como aquela naquele local nos tempos que correm.
A bomba hoje chama-se Multibanco e a horta é de todos.

As galinhas da minha mãe eram contudo mais pequenas  do que as do meu vizinho e mais tenras digo eu. Eram alimentadas com as couves e outros vegetais mas ou por raça ou por falta de tempo passavam pouco tempo na engorda.

Tínhamos rolas e pombos que a minha mãe despachava para o tacho com uma rapidez digna de nota e que começava com um fazer rodopiar a ave três ou quatro vezes no ar partindo-lhes o pescoço. Os coelhos se não lhes dava a "coisa" (moléstia ou otites) eram um regalo no tacho em guisados de comer e chorar por  mais, as aves íam para umas "canjinhas" saborosas (por isso ainda hoje adoro canja).

Por falar em coelhos o meu vizinho deu-me à uns tempos um coelho  que de tão grande que era durou congelado lá por casa  mais tempo do que o tempo que viveu.


Nunca encheu um tanque de água !!!rrsrsr
Era um quintal bonito e bem tratado, verde e arrumado o quintal do meu Pai, lá isso era ! Não posso esquecer que a manutenção dele tinha também muita colaboração da minha Mãe.


o quintal do meu vizinho
 É uma selva engraçada o quintal do meu vizinho lá isso é ...mas que por vezes dá jeito lá isso dá.