Em branco fica a folha se nada nos merece.
Em branco fica a noite se o olhar não adormece.
Em branco fica o dia se nada acontece.
Em branco fica a face se a vida nos estremece.
Tudo acontece mas de modo e forma inopinada
No senso alongado dos dias que não sabem a nada.
Das noites que o sonho relembra a obra inacabada.
Da corda do destino que sem saber é quebrada.
Roda a vida e os ponteiros todos das horas.
Salta-se o caminho dos atrasos de tantas demoras.
Sorris às vezes mesmo quando pela calada choras.
No branco caiado dos lençóis onde a custo moras.
Em branco fica o banco cansado do lado vazio.
Mesmo que corra cheio ferido e desvairado o rio.
Cai a neve branca como a folha escrita pelo frio.
E do meio do nada que me envolve invento e sorrio.
Os contornos saídos da luz mortiça
do candeeiro a petróleo
deixam teu corpo desnudo com um tom
amarelecido difícil de não reparar.
Beijo-te pouco a pouco num procurar louco
que me arrasa enternece e enfeitiça.
O teu abraço alongado sufoca-me de emoção.
Tenho medo do fogo que pode acontecer
se a luz amarela abanada cai no chão.
Procuro diligente solução para o fogo que és
e me faz incontrolado de desejo arder.
Sinto que chove à janela presa por velho trinco.
Afasto-me do chicote em que te tornaste e brinco
prendendo-te contra o meu peito surpreso e ardente
que arfa perdido descompassado de incontrolada loucura.
Penetro mais fundo tua alma recôndita e quente
com gosto de amêndoa doce banhada em óleo
e sugo-te o amor que desprendes em vagas de ternura.
Sofregamente os sentidos desvariam de ambos os lados
e aturam-se como dois endiabrados diabos
entre ondas de calor e tempestades boreais.
Tens os peitos perfeitos agora libertos descuidados
os lábios mais doces que em momentos senti
em espasmos perdidos de prazer incontidos irreais.
Parece ter parado sem nós a chuva que caiu
o candeeiro acaba por se deixar morrer de míngua.
Sinto uma brisa suave que trespassa a cortina sem cor
enquanto te seguro esquecido na minha língua.
Pintada estás agora de um pudor vermelho flor
murcha cansada que sorrindo adormecendo dormiu.
Confesso que acho que és um chulo.
Fico por isso triste danado enraivecido.
Não fora o sol o mar e as pessoas do Povo
ficaria por demais desiludido prostituído rendido
consumido.
Portugal é um chulo permanente para quase toda a gente.
Somos violados pela incompetência à centenas de anos
e contudo marchamos contra os canhões e morremos
sem emoções.
Chulados como Povo diariamente neste País de alterne
não sentimos mesmo que atentos... a chulice constante.
Tudo serve para nos chular os sentimentos.
Somos dados... embriagados de ternura... de males despido
mesmo assim nos chulam em cada dia novo.
Porque será este castigo tão presente tão "fodido"
tão repetido.
Vai faltando o amor próprio em que insistimos...mas não se sente.
Não há crianças nem sorrisos de mulheres... nem coloridos panos
pendurados nos beirais. Não somos os mesmos...
castrados de ilusões
Perdemos a conta aos que nos chulam da alma perene.
Confesso-me cansado perigoso inconstante.