Como sai o poema
facetado de prazer
por cavidades secretas
abraços e rostos sem nada temendo
como se amar fosse escrevendo
com final quase rimado
de frases feridas por setas
que o alvo se quer prolongado
por mais amor menos paixão.
Como sai o poema
à lareira com um gato roxo em fundo
enlouquecido ou a enlouquecer e por fim
como grito do fim do mundo
num pensamento sair dizendo
o que sendo não saber de mim.
Mas não sai assim o poema
revisto parecem apenas migalhas
de rimas que chegam esparsas
sempre com os pés à mão
como inventadas e finais passas
de compassos acessos no coração.
Fico por isso na rima a pensar
que tanto amor assim tão perto
faz-me lembrar dunas vadias
sacudidas no tempo por vento incerto
versando que há também dias
em que tudo parece e não sendo
o que pareço e não sou
mesmo que vá escrevendo e não vou
em contramão ao sonho que sai vivendo.