" E deitado me fico olhando
os flocos soltos de qualquer maneira
que trespassam o negrume do resto da aurora.
Passam rodopiando ao som do vento do norte
que aviva a lareira já cansada
que mantive na noite acordada"
A neve
envergonhada.
É uma mentira descarada
formando mantos de
água tolhida por parada.
Pensando ser dona da verdade
não é ela de fiar ... nada lhe escapa.
Resguardada na beleza omitida
da água que deixa escondida
é traiçoeira inconstante efémera.
Cai sem avisar insiste e molha
o olhar de que sem querer a olha
inquieto por essa estranheza.
Depois a mentira desfaz-se fugidia.
É uma fugaz loucura enquanto dura
que se faz passar por água pura.
A verdade nela não mora de certeza
é uma mentira de flocos salpicada.
A neve persiste trava-nos o apressado andar
leva o escorreito desatento a escorregar.
Deixa a neve crianças de rostos alegres
adultos comprometidos plasmados
é capa de divertimento e desgraça.
Escondida a alva omitida cai de cima
quando a chuva verdadeira não passa.
Se teimosa torna-se uma imensa lama
desinteressante e interesseira do sentido
da chuva que furta ao bem da semente.
Não lhe dou valor nem importância
tolero-a sempre à distância.
Na mentira que não vendo... A alma sente.