sábado, 2 de novembro de 2013

"A ALVA OMITIDA"



" E deitado me fico olhando
os flocos soltos de qualquer maneira
que trespassam o negrume do resto da aurora.
Passam rodopiando ao som do vento do norte
que aviva a lareira já cansada
que mantive na noite acordada"


A neve

Acho que é verdade disfarçada
envergonhada.
É uma mentira descarada
formando mantos de
água tolhida por parada.
Pensando ser dona da verdade
não é ela de fiar ... nada lhe escapa.
Resguardada na beleza omitida
da água que deixa escondida
é traiçoeira inconstante efémera.

Cai sem avisar insiste e molha
o olhar de que sem querer a olha
inquieto por essa  estranheza.
Depois a mentira desfaz-se fugidia.
É uma fugaz loucura enquanto dura 
que se faz passar por água pura.
A verdade nela não mora de certeza
é uma mentira  de flocos salpicada.
A neve persiste trava-nos o apressado andar
leva o escorreito desatento a escorregar.

Deixa a neve crianças de rostos alegres
adultos comprometidos plasmados
é capa de divertimento e desgraça.
Escondida a alva omitida cai de cima
quando a chuva verdadeira não passa. 
Se teimosa torna-se uma imensa  lama
desinteressante e interesseira do sentido
da chuva que furta ao bem da semente.
Não lhe dou valor nem importância
tolero-a sempre à distância.
Na mentira que não vendo... A alma sente.





 

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

"CONTEMPLAÇÃO"













Sentado sob o orvalho  branco e fresco
desliza-me o olhar por vales e rios delirantes
enfeitados de tons de verdes salteados de luz.
Passam apressadas desligadas rumo ao mar
nuvens cinzentas escuras em tontos instantes 
acordadas que foram por fugaz corrente de ar 
descida do pico que me tanto seduz.

Uma aragem parece varrer a vida  tão ocupada
de olhares saltitantes por estranhas portas de fundos
retalhados de dor injustiças amores traições e ternuras.
Peregrinam aves alinhadas como espingardas em parada
na ânsia agitada  de quem voa  em segundos
nos voos da incerteza que de esperança perduras
me o corpo assim na forma mais simples que resta.

Não vislumbro rosto mesmo que ténue no horizonte
nesta imensidão de ideias perdidas de floresta 
o sangue corre-me nas veias adulterado a monte.
Fecho de vez a porta a este orvalho sem cor já desfeito
invento uma janela que abro ao desejo em que me pleito
separando assim a causa do efeito de tanta distância
que sem licença viaja dum orvalhado corpo à infância.