A solidariedade é um estado de espírito que cada vêz mais se encontra menos nos seres humanos.
São ligações desejadas e mútuas entre Homens e Mulheres, entre Famílias, Grupos Sociais, Povos e Nações.
Passa por ser altruísta levando a que na comunidade ou no indivíduo as acções praticadas sejam reflectidas de modo a suprir em todo ou em parte as necessidades de um, de uns ou de muitos..
O Amor vem ou vive perto da solidariedade mas com ela não se deve confundir.
O Amor é algo que se sente mas que se não vê de forma nítida.
A solidariedade apresenta -se-nos diáriamente na sua prática, e nas suas vertentes mais variadas de uma forma mais ou menos visível no emarahado das relações humanas.
Uma pessoa solidária partilha ou tenta partilhar as necessidades quotidianas de outro ou outros e antevê calmamente sem esforço, a maneira mais discreta de acudir ao que de mais presente complica a vida ou o espírito dos que lhe estão perto ou longe.
Pode existir Amor sem o uso da solidariedade mas esta não existe por si só sem o sentimento de Amor. ao próximo ou ! Ao distante
Ambos os sentimentos, vivem isolados ainda que estreitamente e paradoxalmente ligados.
A solidariedade revê-se qual espelho, perante a atitude e o olhar de quem dela é alvo, quer seja dada sob a forma de um acto de grande visibilidade ou valor material, quer seja por um pequeno nada mas importante pormenor.
Quando se é solidário está-se a ser em primeiro lugar um amigo natural e coloca despercebidamente em si as acções e atitudes necessárias para usar sem demoras em favor do seu semelhante.
Fica mal a quem é solidário usar qualquer tipo de embandeiramento por justamente o ser.
A solidariedade não se mostra pratica~se e é quanto mais discreta mais digna e relevante.
As vitimas da falta de solidariedade continuada seja a que nível for são por isso a meu ver pouco atentas e até pouco receptivas ao termo. Tendendo a confundir amiúde esta como uma obrigação inerente.
Entre casais a confusão presta-se a estar mais presente visto a barreira entre a obrigação voluntária e desejável e a solidariedade no seu todo se interligarem de um modo mais próximo e por isso atreito a confusões fáceis e danosas do equilíbrio que se pretende.
Se à falta de entendimento e compreensão se juntar a falta da solidariedade os problemas tendem naturalmente a agravar-se porque, o valor mais importante é para lá do Amor "qualquer coisa" a solidariedade.
A solidariedade junta pessoas, grupos, etnias e Povos. É parte fundamental das Sociedades e um valor acrescido para uma vida a dois.
É consensual e não é por acaso a relevância que a solidariedade cada vez mais ocupa nas redes sociais globais.
Mas convém contudo não confundir as coisas, ou seja !. É conveniente estarmos conscientes do afastamento saudável dos topos de um e outro sentimento .
O Amor por defeito é um sentimento subsidiário, egoísta, egocêntrico e sempre impalpável.
Existe pelas mais variadas razões (escritas e cantadas) falsas ou verdadeiras mas nunca por solidariedade e ainda bem.
Pode ou não o Amor merecer (alêm da que lhe óbviamente está subjacente) a solidariedade livre e expontânea de que cada um dispõe ?
Nesta prespectiva, a questão aflora a divagação de uma forma completamente diferente.
Não é obrigatória a solidariedade extrapolada para alêm daquela que conscientemente se assume ao unirem-se seja de que forma for
homens e mulheres.
Sou apoiante de que ambos podem e devem ser o mais independentes possível uns dos outros é o desejável.
Há contudo quase sempre a necessidade ainda que de uma forma menos continuada recorrer à solidariedade que se pensa estar num ou noutro presente pelas mais variadas razões ao longo da vida.
Por vezes não está dísponivel a solidariedade, apenas o "Amor" está e os exemplos são muitos da falta desta nos dias de hoje quer seja entre Casais, Pais e Filhos, Famílias, Gerações, Povos,ou e Nações.
Daí !...Concluo que: Uma pessoa que não compreende a palavra solidariedade no seu todo ao ponto de ela própria se dessoladirizar é normalmente uma pessoa que da falta dela foi vitima.
Uma pessoa que da solidariedade dos outros se apossa e desvaloriza sem o notar por vezes, apenas parece manter à tona os seus interesses imediatos e futuros sendo por isso portadora de um sentido distorcido da solidariedade dos outros.
Ser solidário implica ser amigo e a amizade é sempre mas sempre, mais importante que o "amor" cor de rosa, interesseiro, possessivo e acima de tudo cego.
A pior coisa neste contexto para a solidariedade, deriva de não lhe ser dado o valor por aqueles que por ela nas mais variadas ciscunstâncias foram bafejados, não que esta seja uma sorte mas porque é de facto um bem.
A solidariedade é altiva, não é orgulhosa e não guarda ressentimento, é simples de dar, não se inventa em nós existe naturalmente nuns.... e noutros não.
Não é algo que se discuta ou sirva de arma de arremesso, não é um chapéu que se usa só porque está sol, é uma forma de ser e estar que deve ser respeitada ou pelo menos compreendida por quem dela é tocada.
É o minímo que se lhe pode dar e que ela sem exigir... Exige !
sábado, 23 de julho de 2011
sexta-feira, 22 de julho de 2011
"HISTÓRIAS DA ÁGUA DO MAR " IV
Dos mais bizarros lembro uma saída para as compras de souvenirs (o Peso era para nós uma moeda leve) em que o "bando dos quatro" vaguearam pela cidade indo estacionar num shopping muito América do Sul .Havia de tudo, do pequeno ao grande embuste, da musica típica aos sombreros, de joias a vistosos vestidos.
Pela minha parte lembro-me de ter comprado um vestido pois claro e uns colares de conchinhas e outras coisas do mar.Na secção de musica comprei quatro LP´S de Mariachi que era o tipico e agradavel som Mexicano.
De souvenir em souvenir lá fomos embora "carregados" de prazer e aliviados de pesos.
Reparei um pouco mais tarde que não tinha pago os discos o que foi um pequeno grande motivo de alegria e risota para o bando.
Confesso que foi quase por esquecimento, pois eu levava os LP´s debaixo do braço bem à vista de todos.
Dizia eu então «musica desta e por este preço... ainda vou comprar mais» e seguimos ao encontro de umas cervejas.
Nestes locais da América do Sul passam constantemente atrelados com bicicleta a vender sumos de tudo o que é fruta tropical.
São autênticos copos bomba para quem os compra e sobretudo bebe porque a diarreia subsequente é quase sempre certa.
Depois deste pequeno reparo sanitário, eis-nos os quatro de volta ao nosso hotel "Sagres" alegres e bem dispostos, contentes em suma com as compras e com uma tarde bem passada.
Ainda não nos tinhamos esquecido do carnaval de boas vindas que o tempo nos tinha pregado três dias antes na noite da nossa atribulada e apressada chegada .
A nossa inocência era tanta (a minha neste caso) que percorremos exactamente o mesmo caminho agora em sentido contrário.
Azar de inocente mesmo foi o que pensei quando me deitaram a mão ao pescoço e num espanhol que eu nunca tinha ouvido falar me arrastaram docemente de novo para o shopping dos souvenirs.
Dos quatro, três estavam de boca aberta e eu só dizia que não percebia nada de espanhol.
Apenas eu e o dono da mão que me agarrava tinhamos a noção do que se estava a passar e era coisa pouca por sinal, apenas faltava o pequeno pormenor de ter de pagar os disquinhos daquela musica tão bonitinha que já nem debaixo do braço levava.
Foi uma grande confusão, mas não houve violência a não ser a que decorreu depois de muitas explicações de nada ter de chegar à conclusão que o melhor era mesmo esquecer o que esquecido tinha sido e pagar com calma os Mariachis mas com o"petit"senão, de os ter de pagar mas por quatro vezes mais o preço original e ficávamos todos amigos como dantes.
Assim foi...
E foi de trombas que mais uma vez devido a um temporal inesperado mas provocado ainda que sem maldade !!! chegámos à baía de Acapulco agora por terra.
Foram os Mariachis mais caros que algum Português alguma vez pagou isso não tenho dúvidas e sempre que os ouvia me lembrava do peso "pesado" que representaram naquela grande e bonita cidade turística do Pacífico.
Hoje perdi os Mariachis e o vestido e os colares.
Fica a história e o peso mal gasto do passado.
PS:
O bando dos quatro foi sempre formado pelos amigos Cardoso algures no Porto,o Martins algures em Alverca,o Alves algures em Lisboa e eu ! ...Algures por aí.
quinta-feira, 21 de julho de 2011
"HISTÓRIAS DA ÁGUA DO MAR" III
A cidade de Rotterdam tem para mim um sabor especial por várias razões: Algumas familiares.
Começando pelas não familiares, recordo os tempos do Florim e os tempos em que víamos manifestações contra o Regime ainda Fascista e que eram fomentadas pelos milhares de Cabo- Verdianos que já nessa época eram uma grande comunidade na Holanda.
Para nós nada habituados a grandes cidades era tentadora a visita e percorremos com denodo todas as ruas e avenidas todos os cantos e canais onde perdemos tempo e ganhámos conhecimentos ao calcorrear um mundo de costumes e modernidades de todo nunca por nós imaginado.
O nosso navio estava atracado junto a uma torre turistica daquelas que agora por todo o Mundo existem com o seu restaurante rotativo a irradiar luz lá bem no alto.
Tal facto, era-nos extremamente útil para qual farol nos orientar nas nossas deambulações nocturnas ao permitir que soubessemos sempre a direcção a que teríamos de rumar quando o cansaço aparecesse.
Eram longas as caminhadas que diáriamente eu e um camarada mais chegado faziamos vasculhando assim tudo o que nos parecia ser novo quer fosse discoteca , pub ou botequim.
De noite a nossa procura cultural era substancialmente reduzida a dois ou três motivos.
Saímos em determinada noite para a ronda noturna com a particularidade de irmos fardados a rigor, dava mais pica achámos na altura e afugenta um pouco mais o frio e os enganos.
A nossa actividade na prática resumia-se a entrar (quando abriam a porta) dar uma vista de olhos pelo ambiente e depois saír com uma desculpa esfarrapada, quase sempre por que os florins estavam "curtos", e o que queríamos mesmo era "cuscar"os ambientes.
A dificuldade em falar o Holandês ou seja o não falar nada o Holandês era também um dos motivos porque a conversa ou melhor a falta dela tornava dificíl proporcionar grandes estadias ou grandes esclarecimentos.
Navegávamos sem rumo definido mas sempre de olho na torre.
Entrávamos e saíamos de portas e portas sem fim e assim se passavam noites de passos mais ou menos perdidos.
De admiração em admiração (para lá da falta de florins) sempre despercebidamente algo ficava na nossa memória.
Uma noite, numa viela mais estreita e com um certo mau aspecto, vimos um negro a fazer sinais para entrarmos num prédio velho de onde saíam em ondas alterosas sons de uma musica indefinida mas que logo nos disse não ser do nosso dia a dia musical .
Subimos umas escadas de madeira até um terceiro andar prestes a cair para o segundo e atravessámos rumo ao centro da musica e ao centro de um mundo de droga e mais os condimentos a ela associados.
Era um ambiente assustador para duas pequenas almas quase virgens nestas andanças e ainda por cima de uniforme. O choque e surpresa dos convivas era quase tão grande como o nosso.
Desde corpos desnudos pelo chão, a mil ofertas de droga, de tudo um pouco tivemos de sobra e tivemos de polidamente num inglês cheio de fumo recusar apontando a medo para o facto verdadeiro de sermos militares.
Ali nos ficámos com pressa de voar ao mesmo tempo que uns quantos florins para duas cervejas (obrigatório) naquela situação, voaram a contragosto dos nossos bolsos.
Foram as cervejas mais rápidas que bebemos tendo em conta que poucas conseguimos por aquelas terras beber, tal era o aperto e a necessidade de mostrarmos serviço e abreviar a estadia naquele local nada apropriado para "petits enfants terríbles" como pensávamos ser.
De lá saímos, acabando por reconhecer que todos e todas tinham sido bastante simpáticos e atenciosos connosco, a farda afinal tinha sido uma boa aposta, tivemos de tudo à disposição.
Quando descemos já nem o negro (o porteiro) encontrámos, nem a direcção em que seguíamos antes era agora para nós certa.
Bem... A olhar para o ar, numa viela não é fácil descobrir uma torre se ela está a alguns kms.
Apostámos para a direita, passo curto e mais ligeiro ao mesmo tempo que nos atropelávamos nas palavras sobre os inesperados e últimos acontecimentos.
Sentiamo-nos até com uma certa dose de sorte por ter tido o previlégio de ter entrado e ter (mais importante) saído de um lugar tão "especial" e tão pouco frequentado pela fauna Lusitana que representáva-mos.
Estavam as emoções daquela noite mais do que conseguidas.
Apenas bastava agora chegar ao fim da "viela direita" e em campo mais aberto olhar para a nossa torre e para o nosso beliche merecido mesmo, mesmo junto a ela , quatro e meia da manhã, o frio estava-se a tornar pesado.
A passo vigoroso lá fomos pelo escuro que parecia não ter fim.
Estava contudo escrito que naquela noite e naquela rua as surpresas ainda não tinham acabado e nisso reparámos quando entre o ruído dos nossos passos e conversas se começou misteriosamente a intrometer um trinar que só podia ser Português e que parecia querer tropeçar em nós saído duma madrugada agreste e fria que despontava num horizonte que ainda não vislumbrávamos.
Primeiro secos e repartidos pelo vento, depois mais cheios e quentes, depressa perdemos as dúvidas de que pairavam pelo ar em crescendo os sons de guitarrras Portuguesas concerteza acompanhados do murmúrio que se fáz quando em grupo trauteamos o fado.
E era de Coimbra dissemos estugando o andar.
Cantava-se o fado às cinco da manhã na Casa de Santarém em Rotterdam e "Coimbra tem mais encanto na hora da despedida".
Nessa porta entrámos transbordantes de frio e confiança. Lá dentro o fado enchia o ar e os nossos amigos de bordo meio bebidos e num nevoeiro de fumo acompanhavam tão suave quanto possível o conjunto de guitarras e o fadista do momento.
Acabámos por ficar para aquecer e para esquecer.
Giravam por ali não florins mas escudos, o que nos deixou mais à vontade, a cerveja passou de cara a barata e a nossa disposição de caminhantes com sorte a sortudos caminhantes.
Era manhã e mais dois passos menos firmes deixou-nos à vista da torre distante e que tão perdida estivera antes de "Coimbra" encontrarmos.
Passados desde esses tempos 34 anos, também quem sabe se aquela torre serviu de guia para quem me é muito querido na vida e que dançando passou correndo... pelas ruas de Rotterdam .
Começando pelas não familiares, recordo os tempos do Florim e os tempos em que víamos manifestações contra o Regime ainda Fascista e que eram fomentadas pelos milhares de Cabo- Verdianos que já nessa época eram uma grande comunidade na Holanda.
Para nós nada habituados a grandes cidades era tentadora a visita e percorremos com denodo todas as ruas e avenidas todos os cantos e canais onde perdemos tempo e ganhámos conhecimentos ao calcorrear um mundo de costumes e modernidades de todo nunca por nós imaginado.
O nosso navio estava atracado junto a uma torre turistica daquelas que agora por todo o Mundo existem com o seu restaurante rotativo a irradiar luz lá bem no alto.
Tal facto, era-nos extremamente útil para qual farol nos orientar nas nossas deambulações nocturnas ao permitir que soubessemos sempre a direcção a que teríamos de rumar quando o cansaço aparecesse.
Eram longas as caminhadas que diáriamente eu e um camarada mais chegado faziamos vasculhando assim tudo o que nos parecia ser novo quer fosse discoteca , pub ou botequim.
De noite a nossa procura cultural era substancialmente reduzida a dois ou três motivos.
Saímos em determinada noite para a ronda noturna com a particularidade de irmos fardados a rigor, dava mais pica achámos na altura e afugenta um pouco mais o frio e os enganos.
A nossa actividade na prática resumia-se a entrar (quando abriam a porta) dar uma vista de olhos pelo ambiente e depois saír com uma desculpa esfarrapada, quase sempre por que os florins estavam "curtos", e o que queríamos mesmo era "cuscar"os ambientes.
A dificuldade em falar o Holandês ou seja o não falar nada o Holandês era também um dos motivos porque a conversa ou melhor a falta dela tornava dificíl proporcionar grandes estadias ou grandes esclarecimentos.
Navegávamos sem rumo definido mas sempre de olho na torre.
Entrávamos e saíamos de portas e portas sem fim e assim se passavam noites de passos mais ou menos perdidos.
De admiração em admiração (para lá da falta de florins) sempre despercebidamente algo ficava na nossa memória.
Uma noite, numa viela mais estreita e com um certo mau aspecto, vimos um negro a fazer sinais para entrarmos num prédio velho de onde saíam em ondas alterosas sons de uma musica indefinida mas que logo nos disse não ser do nosso dia a dia musical .
Subimos umas escadas de madeira até um terceiro andar prestes a cair para o segundo e atravessámos rumo ao centro da musica e ao centro de um mundo de droga e mais os condimentos a ela associados.
Era um ambiente assustador para duas pequenas almas quase virgens nestas andanças e ainda por cima de uniforme. O choque e surpresa dos convivas era quase tão grande como o nosso.
Desde corpos desnudos pelo chão, a mil ofertas de droga, de tudo um pouco tivemos de sobra e tivemos de polidamente num inglês cheio de fumo recusar apontando a medo para o facto verdadeiro de sermos militares.
Ali nos ficámos com pressa de voar ao mesmo tempo que uns quantos florins para duas cervejas (obrigatório) naquela situação, voaram a contragosto dos nossos bolsos.
Foram as cervejas mais rápidas que bebemos tendo em conta que poucas conseguimos por aquelas terras beber, tal era o aperto e a necessidade de mostrarmos serviço e abreviar a estadia naquele local nada apropriado para "petits enfants terríbles" como pensávamos ser.
De lá saímos, acabando por reconhecer que todos e todas tinham sido bastante simpáticos e atenciosos connosco, a farda afinal tinha sido uma boa aposta, tivemos de tudo à disposição.
Quando descemos já nem o negro (o porteiro) encontrámos, nem a direcção em que seguíamos antes era agora para nós certa.
Bem... A olhar para o ar, numa viela não é fácil descobrir uma torre se ela está a alguns kms.
Apostámos para a direita, passo curto e mais ligeiro ao mesmo tempo que nos atropelávamos nas palavras sobre os inesperados e últimos acontecimentos.
Sentiamo-nos até com uma certa dose de sorte por ter tido o previlégio de ter entrado e ter (mais importante) saído de um lugar tão "especial" e tão pouco frequentado pela fauna Lusitana que representáva-mos.
Estavam as emoções daquela noite mais do que conseguidas.
Apenas bastava agora chegar ao fim da "viela direita" e em campo mais aberto olhar para a nossa torre e para o nosso beliche merecido mesmo, mesmo junto a ela , quatro e meia da manhã, o frio estava-se a tornar pesado.
A passo vigoroso lá fomos pelo escuro que parecia não ter fim.
Estava contudo escrito que naquela noite e naquela rua as surpresas ainda não tinham acabado e nisso reparámos quando entre o ruído dos nossos passos e conversas se começou misteriosamente a intrometer um trinar que só podia ser Português e que parecia querer tropeçar em nós saído duma madrugada agreste e fria que despontava num horizonte que ainda não vislumbrávamos.
Primeiro secos e repartidos pelo vento, depois mais cheios e quentes, depressa perdemos as dúvidas de que pairavam pelo ar em crescendo os sons de guitarrras Portuguesas concerteza acompanhados do murmúrio que se fáz quando em grupo trauteamos o fado.
E era de Coimbra dissemos estugando o andar.
Cantava-se o fado às cinco da manhã na Casa de Santarém em Rotterdam e "Coimbra tem mais encanto na hora da despedida".
Nessa porta entrámos transbordantes de frio e confiança. Lá dentro o fado enchia o ar e os nossos amigos de bordo meio bebidos e num nevoeiro de fumo acompanhavam tão suave quanto possível o conjunto de guitarras e o fadista do momento.
Acabámos por ficar para aquecer e para esquecer.
Giravam por ali não florins mas escudos, o que nos deixou mais à vontade, a cerveja passou de cara a barata e a nossa disposição de caminhantes com sorte a sortudos caminhantes.
Era manhã e mais dois passos menos firmes deixou-nos à vista da torre distante e que tão perdida estivera antes de "Coimbra" encontrarmos.
Passados desde esses tempos 34 anos, também quem sabe se aquela torre serviu de guia para quem me é muito querido na vida e que dançando passou correndo... pelas ruas de Rotterdam .
quarta-feira, 20 de julho de 2011
"HISTÓRIAS DA ÁGUA DO MAR" II
Decorreram 5 a 6 dias de mar em que as tarefas diárias a par da repetida leitura das últimas e futuras cartas de amor e saudade eram quase o único sustento para a passagem do tempo.
O mar umas vezes agreste e eriçado e uma chuva própria de marujo visitava-nos amiúde promovendo o beliche a atracção principal sempre que possível.
Nada havia de empolgante e o Panamá não deixara saudades para lá da meia dúzia de "souvenirs" mais ou menos de mau gosto que por obrigações aberrantes se teima em comprar em todo o local que é novo durante as andanças da vida .
Estávamos a um dia da chegada à baía de Acapulco pelo que e por estarmos adiantados no tempo graças ao vento a favor até aí constante e amigo, se resolveu pairar.
Como de costume, lavar e pintar pela enésima vez todas as partes do navio foi como sempre era , o sinal que nos lembrava a todos o cheiro de terra e notícias frescas.
O frenesim da limpeza e da pintura ao mesmo tempo alargava-nos o sorriso e diminuía o mal estar causado pela estadia longa ao sabor do vai e vem daquele chão inquieto que habitáva-mos.
De Acapulco sabíamos ser um local famoso de turismo com belas praias e discotecas pelo que todos nos aprestávamos para a descoberta das razões da fama e dos meandros da cidade.
Antes porém ! Quis o destino ou melhor a natureza, sujeitar-nos a um desafio não calculado pela rapidez com que chegou, sob a forma de uma violenta tempestade tropical que em minutos sobre nós desabou transformando a tarde quente e sossegada numa noite escura e nada sossegada .
Instalou-se sem aviso prévio uma verdadeira montanha russa em que o lado inclinado era sempre o mesmo e que alguns tiveram grandes dificuldades em suportar.
Rajadas de vento assustadoras a par de uma chuva grossa que doía no rosto deitou por "terra" os preparativos e o resto de tudo o que alegre e afanosamente se tinha procurado abrilhantar.
A inclinação a que fomos sujeitos pelo vento forte andou perto do limite de segurança e o pânico roçou mesmo os mais habituados a estas diabruras dos elementos naturais.
Encharcados e doridos da pancada fomos empurrados pelas vagas de vento e pelas vagas de mar que na escuridão apenas pressentíamos ser grandes e perigosas.
Acapulco parecia querer-nos mostrar a sua fama de cidade irreverente e espetacular mas para azar nosso da pior forma possível.
Quem o Oceano percorre não precisa de ajudas nem divertimentos deste tipo. O simples facto de nele andar por dias e dias a fio é já motivo que chegue para excitar a alma e aguçar os sentidos.
Mas o mal estava feito e era meia noite quando ficámos cansados, molhados e desarrumados ao largo da baía de Acapulco que de bonita naquela altura para nós nada tinha, já que com tanta chuva nem o resplendor da cidade que se dizia fascinantes víslumbrávamos.
Sem poder aterrar devido ao estado de sítio porque passávamos, passámos o resto da noite a reparar estragos e a posar para a maior trovoada e para os maiores raios que alguma vêz na vida tinhamos (pelo menos a maior parte de nós) deparado.
Dir-se ia que todos de terra disparavam os seus flash em busca da melhor fotografia para a nossa bela barca.
Um dos flash foi tão "curioso" que entrou pelo mastro da mezena com o estrondo respectivo e depois de descer e rebentar com todos os equipamentos electricos saíu airosamente atrapalhando suponho a fauna que por perto deveria andar.
Foi uma noite de Santo António e a premonição de que iríamos encontrar uma cidade excitante de luz e cor de ruído e movimento.
A premonição estava certa.
Pouco se dormiu e pela manhã, entrámos quase que lavados de mais, frescos e airosos, na agora bela baía de Acapulco seguidos pelo olhar de milhares de pessoas que nos recebiam sorrindo como se nada de mais tivesse ocorrido a tão "belos Globetrotter" dos mares.
O mar umas vezes agreste e eriçado e uma chuva própria de marujo visitava-nos amiúde promovendo o beliche a atracção principal sempre que possível.
Nada havia de empolgante e o Panamá não deixara saudades para lá da meia dúzia de "souvenirs" mais ou menos de mau gosto que por obrigações aberrantes se teima em comprar em todo o local que é novo durante as andanças da vida .
Estávamos a um dia da chegada à baía de Acapulco pelo que e por estarmos adiantados no tempo graças ao vento a favor até aí constante e amigo, se resolveu pairar.
Como de costume, lavar e pintar pela enésima vez todas as partes do navio foi como sempre era , o sinal que nos lembrava a todos o cheiro de terra e notícias frescas.
O frenesim da limpeza e da pintura ao mesmo tempo alargava-nos o sorriso e diminuía o mal estar causado pela estadia longa ao sabor do vai e vem daquele chão inquieto que habitáva-mos.
De Acapulco sabíamos ser um local famoso de turismo com belas praias e discotecas pelo que todos nos aprestávamos para a descoberta das razões da fama e dos meandros da cidade.
Antes porém ! Quis o destino ou melhor a natureza, sujeitar-nos a um desafio não calculado pela rapidez com que chegou, sob a forma de uma violenta tempestade tropical que em minutos sobre nós desabou transformando a tarde quente e sossegada numa noite escura e nada sossegada .
Instalou-se sem aviso prévio uma verdadeira montanha russa em que o lado inclinado era sempre o mesmo e que alguns tiveram grandes dificuldades em suportar.
Rajadas de vento assustadoras a par de uma chuva grossa que doía no rosto deitou por "terra" os preparativos e o resto de tudo o que alegre e afanosamente se tinha procurado abrilhantar.
A inclinação a que fomos sujeitos pelo vento forte andou perto do limite de segurança e o pânico roçou mesmo os mais habituados a estas diabruras dos elementos naturais.
Encharcados e doridos da pancada fomos empurrados pelas vagas de vento e pelas vagas de mar que na escuridão apenas pressentíamos ser grandes e perigosas.
Acapulco parecia querer-nos mostrar a sua fama de cidade irreverente e espetacular mas para azar nosso da pior forma possível.
Quem o Oceano percorre não precisa de ajudas nem divertimentos deste tipo. O simples facto de nele andar por dias e dias a fio é já motivo que chegue para excitar a alma e aguçar os sentidos.
Mas o mal estava feito e era meia noite quando ficámos cansados, molhados e desarrumados ao largo da baía de Acapulco que de bonita naquela altura para nós nada tinha, já que com tanta chuva nem o resplendor da cidade que se dizia fascinantes víslumbrávamos.
Sem poder aterrar devido ao estado de sítio porque passávamos, passámos o resto da noite a reparar estragos e a posar para a maior trovoada e para os maiores raios que alguma vêz na vida tinhamos (pelo menos a maior parte de nós) deparado.
Dir-se ia que todos de terra disparavam os seus flash em busca da melhor fotografia para a nossa bela barca.
Um dos flash foi tão "curioso" que entrou pelo mastro da mezena com o estrondo respectivo e depois de descer e rebentar com todos os equipamentos electricos saíu airosamente atrapalhando suponho a fauna que por perto deveria andar.
Foi uma noite de Santo António e a premonição de que iríamos encontrar uma cidade excitante de luz e cor de ruído e movimento.
A premonição estava certa.
Pouco se dormiu e pela manhã, entrámos quase que lavados de mais, frescos e airosos, na agora bela baía de Acapulco seguidos pelo olhar de milhares de pessoas que nos recebiam sorrindo como se nada de mais tivesse ocorrido a tão "belos Globetrotter" dos mares.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
"HISTÓRIAS DA ÁGUA DO MAR" I
Saímos como soi dizer-se de trombas da complexa, pobre e peculiar cidade do Panamá.
Para trás ficaram lojas de artesanato duvidoso, muita pobreza e costumes nada parecidos com os nossos ainda frescos hábitos e modos Europeus
Na memória ficaram gravadas as miríades de cores com que os autocarros tipo Americano (iguais aos célebres amarelos das escolas publicas dos EUA) eram pintados (algumas partes à mão) carregados de gente até ao teto tirando assim importância ao numero regular de bancos disponíveis.
Enfeitados com penas e cornos ferraduras e nomes de toda a familia do condutor presumo, lá seguiam entre a multidão deixando outra multidão a respirar o fumo negro e viscoso que teimavam largar a cada mudança de velocidade.
A reter pela positiva a ponte da cidade "Ponte das Americas" (1962) que apesar da idade tem charme e personalidade e a quantidade de peixes porcos espinhos que boiavam cansados pela superficíe das águas
Em traços largos depois da beleza infindável do Canal do Panamá e da confusão indescrítivel da Cidade ía-mos descansar por oito dias de mar para a chegada ao México e à famosa e misteriosa para nós cidade de Acapulco.
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