Didi passava todos os dias
na rua que era a sua.
e minha.
De vestidos coloridos
sob casaco desbotado
no seu andar arrastado
em sapatos desconfiados
do peso diário.
Levava sempre um saco
com qualquer coisa
e folhas de poemas na mão
que distribuía porta sim
porta não.
De cabelo grisalho
em cachos amolgados
pelo tempo
deixava bons dias
e dedos de conversa
nas rotinas da vida.
Olá Didi está tudo bem
perguntava no seu
sorriso de um dente só.
Tinha uns terrenos
para dar a um sobrinho
e uma magra reforma
para manter a história
de viver.
Didi não era o seu nome.
Júlia era a sua graça
Didi o seu modo
de tratar uma amiga
dos seus poemas
e desabafos perdidos.
Júlia vivia só com o gato
com a ausência
e com a solidão.
Foi encontrada na banheira
no fria e gelada
de vida.
Didi já não se deixa ver
na rua que era sua
muito menos dar a ler
poemas do sol e da lua.