sexta-feira, 7 de abril de 2017

"DESARRUMAÇÃO"












Se no sonho dos dias me desarrumo
fico assim por tempos desarrumado 

por parcelas salteadas que me invadem
sentindo eu delas me sentir desarmado.
 

Solta-se a vida do sentido e do rumo
como tocha ateada em fogo alheio
que ardendo me apanha em cheio
como a poema ardido em papel pardo.


A noite inteira é parceira da desarrumação
desfazendo o sonho que espalhado não arrumo
e me castiga então afastado que estou da paz
deixando que do mais ou menos tanto faz.
 

Se na palavra vislumbro nesga para nascer
arrumo as cinzas então deixando-a crescer
parecendo o desarrumo que o sonho tinha

soma imperfeita que no pensar eu retinha.


 

quarta-feira, 5 de abril de 2017

"PROCRATISNAÇÃO"
















Tenho-te no pensamento todo inteiro
todavia não me chegas aos dedos

como gostava e queria deitar-te
no branco do papel que me olha.

Vives-me nos poros difusos da pele
deixando-me inerte sem reação aparente
nesta corrente que me nasce de repente
perdida de leito que é rio feito de gente.

 
Revolvo-te as entranhas horas e dias
às vezes semanas até te tornar tema
dos segredos que me amarram às palavras
que quero soltar de mim no ar e largar.

Ficas-me na alma que não sei onde pára
sem saber eu o tempo que vou esperar
prenho por não quereres sair de mim.

Vai-me parecendo prolixo o desejado fim
que breve seria a escrita de tanto pensar
pronto que estou mesmo sem perceber

se te quero mesmo escrever
ou te para sempre guardar

dentro dos restos de mim
pertinho do coração
imperfeito de solidão.

 

terça-feira, 4 de abril de 2017

"SUBLIMAÇÃO"














Sobram poemas em rimas babadas
amores traiçoeiros azares de vida
saudades esquecidas lembradas dobradas
nus inteiros suspiros desejos fingidos
molduras de beijos bolas corações
hipóteses eróticas masturbações.

Vendem-se frases sublimes coisa e tal
tudo muito espiritual muito adocicado
patati patata tudo solto quase nada
tudo leveza pesada empatada
muito prazer ideal já que nada é real
pra parecer não pensar só aparecer.

A poesia tem esta eterna virtude
mesmo que abandonada ao vento
passa disfarçada por doce solicitude
sublimada que depois se deixa de amar
mascarada infeliz privada da virtude 
que cada um escolhe lhe querer dar.