Desdobro as palavras
que encontro no chão.
Umas são delicadas
algumas grosseiras
outras interesseiras.
Guardo a mais pequena
para desdobrar mais tarde
tem um cheiro diferente
me parece.
Esquecida... por desdobrar
a noite inteira aquece
no bolso da solidão.
Tem um odor que me invade
e desperta.
Não é assim tanto mar não.
Desdobro-a com o cuidado
de um botão em flor
na hora certa.
Ponho a chaleira ao lume
Bebo um café
como de costume.
Com tropical sabor
desdobro a palavra
e leio nela amor.
Por nada se escreve tudo.
Se escreve para suavizar a dor
dizer o que se gostava de ouvir
mitigar a fome alimentar o espirito
que preso no escuro do tempo ficou
e que sem o sentirmos passar passou.
Se escreve pra dar recados em flor
por palavras atropeladas no grito
que por nós despertam primeiro
a zanga do pensamento saír
já de si maltratado a ruir
como rio afogado sem mar
que amor não há por inteiro.
Se escreve em toada louca
na urgência tanta de escrever
que a voz cansada está rouca
sem força sequer pra dizer
que morrer é mais coisa pouca
por tanto se querer ver viver.