Carregam-se se no dorso as cangas
que de vidas escolhem as mais desgraçadas
fazendo-nos alternar alegrias e zangas
por espaços de tempo cheios de nadas.
São tardes e noites sem a porta se abrir
esperas que se bebem em taças vazias
sonhos que se perdem num mar de almofadas
nadando num rio sem horas nem dias
Vão-se criando ideias tornadas feridas
no erro e desvario que segue profundo
pla vista toldada que já não vê melhor
nas águas paradas como se parado mundo
que torna a mentira um modo de vida pior
dando ao tempo espaço de caso perdido
em derrotadas lutas à muito esquecidas
num simples adeus que antes era querido.
Olho-te como um imenso mar
revolto zangado de estranha cor
em desenganado sonho vadio.
Deixo-te perder no meu olhar
perdido que fico na cerração da dor
sob um imenso pó espesso e bravio.
Um sonho mau passa como a maré
vazia de sentido que retorna adentro no mar.
Damos então as mãos sentindo o corpo acordar
na imensa planura de um braço simples de dar
afagados por leve brisa que discreta paira no ar
levantando-nos do chão perdido de fé.
Depois tudo tornamos transparente
se parido amor se sente por perto
apertando o peito desperto da gente.
Estranha maré esta de correntes errantes
que findado o sonho tornam o dia desperto
mesmo que de tão perto estejam distantes.