Percorro a cidade ao anoitecer
ofuscado em brilhos de montras da vaidade
ementas penduradas em frases apelativas
e portas rotativas
pra interiores de prazer.
As ruas estão perdidas de interesse
vitimas de falta de alma e chama.
O papelão é colchão e saco cama
cruzado por passos silenciosos
e gastos.
Percorro a cidade ao anoitecer
iluminado por néons de caridade
armazenada em filas de fome
organizadas
que a cidade maior não quer ver.
Uma vela treme a chama
nas mãos de uma criança
um arrastar de pés indolente
uma bengala abandonada de gente
um cão quase a esquecer o destino
uma porta de capela trancada.
A eterna sombra que tudo abraça
lentamente tudo cobre e avança
esvaziando o doer.
Até de novo ser dia.
Até de novo anoitecer.
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