sexta-feira, 3 de outubro de 2014

"PASSOS PERDIDOS"















Percorro a cidade ao anoitecer
ofuscado em brilhos de  montras da vaidade
ementas penduradas em frases apelativas
e portas rotativas
pra interiores de prazer.

As ruas estão perdidas de interesse
vitimas de falta de alma e chama.
O papelão é colchão e saco cama
cruzado por passos  silenciosos
e gastos.

Percorro a cidade ao anoitecer
iluminado  por néons  de caridade 
armazenada em filas de fome
organizadas
que a cidade maior não quer ver.

Uma vela treme a chama
nas mãos de uma criança
um arrastar de pés indolente 
uma bengala abandonada de gente
um cão quase a esquecer o destino
uma porta de capela trancada.
A eterna sombra que tudo abraça
lentamente tudo cobre e avança 
esvaziando o doer.
Até de novo ser dia.
Até de novo anoitecer.




 

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