1961 +/-
Andava o meu Pai a tratar do quintal, ao mesmo tempo, andava eu com o livrinho da tabuada (coisa séria de aprender para mim) que nunca fui muito prendado no mundo dos números.
Já estava na 3º ou 4ª classe e não atinava com a resposta pronta para os 9 x 7 ou os 8 x 9 que de tempos a tempos o meu Pai no intervalo de uma cavadela me lançava.
A cada erro dizia ele estuda; eu, sentado nos degraus da porta da cozinha, lá ía cozinhando o estudo empinado para tentar decorar aquela salada de numeros que parecia não mais parar de me azarar a vida.
A uma nova pergunta, mais uma resposta errada.
Recebi como prémio as (usuais na época ) 4 palmadas de grau 5 no traseiro descarnado, que me fizeram saltar de emoção, baralhando-me as contas de vez .
Andavam nessa época ainda em parte incerta, as máquinas de calcular, tabletes e outras iguarias tão apreciadas pelos jovens, (que continuam a não saber em grande maioria), a tabuada.
Lá fiquei, desgraçado e dorido a olhar entre soluços e lágrimas para aquele emaranhado de quadros e, números sinais e outras coisas que pareciam apenas existir para me atormentar a vida .
Passadas cerca de duas horas de sofrimento a olhar para o maldito livrinho, acabei por responder acertadamente a três ou quatro perguntas sobre o tema que de soslaio o meu Pai lá no meio das batatas me lançou.
Respondi com êxito, sentindo finda a tarefa; fui mudar de calças.
Até à próxima, pelo menos estava a salvo.
Assim foi !
Ainda hoje me lembro da cena e nunca mais falhei na tabuada. Continuo a ser um nabo em contas, mas na tabuada não. (se calhar eram nabos e não batatas).
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