terça-feira, 24 de dezembro de 2013

"CHUVA DE NADA"





Chove a correr
por entre perdidos e achados
por entre ruas e lares falhos de calor
por sonhos desfeitos nunca sonhados
numa sinfonia surda de vida atrapalhada.
Chove a correr
entre a alma e o sentido sentimento
formando ao cair rios de agua e lodo.
Está cego o farol desta gente apagada
que não consegue singrar esquecendo.

Chove a correr
entre formas de amor desencontrados
por vielas perdidas e calçadas de amor
estranhos por perdidos e molhados
já que de tudo acaba por não ter nada.
Chove a correr
em campos  regados de esquecimento
molhados de água e vidas duras de todo.
Marcas mascaram rostos de pele engelhada 
que da lei submersos vivem no tempo morrendo.


Chove a correr
não deixando ver lá fora
a chuva que cai e demora
o horizonte da esperança.

Desencontrado que está
da lembrança...
do amor...
e do ser.



 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

"NATAL DA ÉPOCA"



Chovem sinais de dificuldades que a quase todos
toca  pela rua inteira.
O frio acostumado, torna as bolas coloridas mais baças que brilhantes.
As pessoas passam apressadas de olhar mais caído do que antes
de sorriso um ano mais cansado de tamanha açoiteira 
que soa a desfasada  e perdida no tempo.

As montras da esperança são sonhos dos conscientes
de crianças cansadas de ouvir que não pode ser. 
São quadros pintados para apenas ver.
Morrem crianças de nada e morrem crianças de ânsias dormentes
o "Pai Natal" foi roubado dirão.
O "Pai Natal" não existe mais ... Ouvem aos Pais.

O espírito do Natal... Esse está sempre presente
mascarando de ternura rostos amargurados
que olham sem ver nem poder fazer os gestos normais
de todos os Natais.
Para muitos... a consoada vai ser mais desconsolada
sem se poder saber se podia... Não ser assim...

Esgotado... O rio da vida escorre perdendo-se do leito
sem rumo... Perdido ferido de morte... Afastado da sorte.
As folhas caídas pisadas do desejo insatisfeito que existe
tornam o percurso atoalhado de uma tristeza que se quer
esquecida. Sabemos que o amor de sempre persiste...
Mesmo escondido, mesmo perdido, mesmo desfeito.

Haverá em muitos... Saudade de sabores e bacalhau...Que vai nu! 
Se calhar faltam as bonecas e a perna do peru. 
Se calhar um brinquedo é mais um segredo... Que não chega.
É tempo de recordações... Amores e desejos mais contidos
assim tudo fica mais parecido com tempos idos...
É de todos os anos... Não faz mal Mãe...  É Natal.





 
 
 





 

sábado, 2 de novembro de 2013

"A ALVA OMITIDA"



" E deitado me fico olhando
os flocos soltos de qualquer maneira
que trespassam o negrume do resto da aurora.
Passam rodopiando ao som do vento do norte
que aviva a lareira já cansada
que mantive na noite acordada"


A neve

Acho que é verdade disfarçada
envergonhada.
É uma mentira descarada
formando mantos de
água tolhida por parada.
Pensando ser dona da verdade
não é ela de fiar ... nada lhe escapa.
Resguardada na beleza omitida
da água que deixa escondida
é traiçoeira inconstante efémera.

Cai sem avisar insiste e molha
o olhar de que sem querer a olha
inquieto por essa  estranheza.
Depois a mentira desfaz-se fugidia.
É uma fugaz loucura enquanto dura 
que se faz passar por água pura.
A verdade nela não mora de certeza
é uma mentira  de flocos salpicada.
A neve persiste trava-nos o apressado andar
leva o escorreito desatento a escorregar.

Deixa a neve crianças de rostos alegres
adultos comprometidos plasmados
é capa de divertimento e desgraça.
Escondida a alva omitida cai de cima
quando a chuva verdadeira não passa. 
Se teimosa torna-se uma imensa  lama
desinteressante e interesseira do sentido
da chuva que furta ao bem da semente.
Não lhe dou valor nem importância
tolero-a sempre à distância.
Na mentira que não vendo... A alma sente.





 

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

"CONTEMPLAÇÃO"













Sentado sob o orvalho  branco e fresco
desliza-me o olhar por vales e rios delirantes
enfeitados de tons de verdes salteados de luz.
Passam apressadas desligadas rumo ao mar
nuvens cinzentas escuras em tontos instantes 
acordadas que foram por fugaz corrente de ar 
descida do pico que me tanto seduz.

Uma aragem parece varrer a vida  tão ocupada
de olhares saltitantes por estranhas portas de fundos
retalhados de dor injustiças amores traições e ternuras.
Peregrinam aves alinhadas como espingardas em parada
na ânsia agitada  de quem voa  em segundos
nos voos da incerteza que de esperança perduras
me o corpo assim na forma mais simples que resta.

Não vislumbro rosto mesmo que ténue no horizonte
nesta imensidão de ideias perdidas de floresta 
o sangue corre-me nas veias adulterado a monte.
Fecho de vez a porta a este orvalho sem cor já desfeito
invento uma janela que abro ao desejo em que me pleito
separando assim a causa do efeito de tanta distância
que sem licença viaja dum orvalhado corpo à infância.





 

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

"A ESPUMA DOS DIAS"
















Passa batida por ideias a espuma dos dias
primeiro deixa-nos cegos depois deixa vislumbrar
os contornos de um horizonte mal conseguido.
A espuma dos dias revolteada pelo vento
lança flocos fugazes em redor de tudo e de nada.

A espuma dos dias é efémera  não deixa rasto
molha o pensamento arrumado tolhe a liberdade
tornando-se saudade descuidada um cansaço gasto.
A espuma dos dias passa por nós como nós pela idade
é uma porta sempre aberta...Janela sempre fechada.






  

sábado, 19 de outubro de 2013

"DESVARIOS"



Sem me ver... encontro o mal de que padeço
por um espelho avariado me refletir
em forma de sombras  esvanecidas
e que na tempestade de pé adormeço
sem reler as páginas que não quero lidas
feitas de histórias que recuso repetir.

A oralidade rodeia as sombras em meu redor
como se vagas de pensamento obtuso lhe dessem forma
tornando vago e difuso o ansiado por mim pormenor
de pé mantenho o sonho num mar de limos e teias empastado
passando a exceção a ser mais do que uma norma
e o olhar rodopiando se torna enfim  fugaz de cansado.


 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

" FOI ASSIM EM 2012"









As incertezas do dia a dia são cada vez mais e cada vez mais frequentes os momentos de tendência para diminuir a velocidade do pensamento e do raciocínio.
 
A par de uma situação no País digna de um qualquer filme do pós -guerra, nota-se que palavras como sentido de responsabilidade, ética e acima de tudo procura de valores essenciais, rareiam nas novas gerações e pior ainda nas velhas e pior ainda, naqueles que sem serem obrigados, se colocam aos comandos do destino do País e das suas gerações passadas e futuras.
 
Tudo se passa como numa qualquer novela e não é difícil prever o episódio seguinte ou futuros, se por acaso um dia estamos sem ligar um qualquer canal.
 
Tudo previsto, "tudo dejá vu " e só quem não quer ver não vê mesmo.

A Europa caminha para a sua destruição como aglomerado de Países e os Povos caminham para um estado de incerteza e pessimismo cada vez mais notório.
Os Países do Sul da Europa são e sempre foram, os mais visados e desajuizados no que concerne a colocarem ao serviço dos seus habitantes, politicas realísticas e balizadas em critérios de trabalho e responsabilidade.

A fatura aí está.
Está a fatura, mas não estão mais uma vez os procedimentos assentes em ética e responsabilidade.
O recente e a recente discussão sobre o OE 2013 é a prova dos nove para quem atento, consegue ver sem dificuldade que anda meio mundo a enganar outro meio e que no meio fica uma coisita de somenos importância que é o Povo e o futuro colectivo.
 
A irresponsabilidade alastra-se deste modo a tudo e a todos. Às dificuldades e à mentira juntam-se a descrença e a fuga para a frente a todos os níveis.
Procura-se o facilitismo a qualquer preço, perde-se a noção de valor do trabalho e a seriedade do indivíduo, é mais factor de chacota do que valorização pessoal.
 
Os velhos não morrem, os novos não avançam e assumir responsabilidades é uma coisa de que nem é bom ouvir falar.
 
A sociedade Europeia, principalmente a Europa do Sul, chegou ao fim da maravilha a que se tinha proposto.
Acabaram os "IPHODES", I´PAD´S, e as modernices acrescidas.
Acabaram as Pizzas semanais, os jantares e os empregos caídos do céu (ressalva para os imensos afilhados).
Resta a seriedade, o esforço, a persistência e a vontade de lutar e de se fazer valer em todo o lugar que seja Terra.
 
Há ainda forma de  arranjar forças e convicções inabaláveis alicerçadas nos valores éticos do trabalho e na reprodução do esforço de uma maneira continuada?
 
A vida actual, tal como esta crónica, deve ser vivida sem medos e sem engulhos que coartem a ação e o pensamento.
Pode ter erros de percurso ou ortográficos, mas pretende avançar e descolar da inércia do pensamento e aprofundar o sentido autocritico que devemos manter e refundar.
 
Reciclar a vida é mais ou tão útil  do que reciclar as pilhas dos "IPHODES".
 
A Europa não está para brincadeiras e distrações,  mas está ao que parece, entregue a brincalhões e distraídos o que para os desatentos pode ser fatal.
As relações humanas estão a ser postas à prova e cada vez são mais difíceis de levar a bom porto.  Perto o ditado que diz "Que em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão". Está perto diria, o tempo em que nada se adivinha fácil e em que nada se afigura certo.
 
Do alto dos sixty one years old e revendo o passado, afiguram-se-me mais plausíveis os erros que todos apesar de tudo cometemos, do que a tolerância que é dada aos actuais erros que quase todos teimam em continuar.
Por mim já planto coentros e salsa, por mim já sofro pelos outros.
Por mim desdenho a paragem e o facilitismo actual. 

sábado, 12 de outubro de 2013

" OUTRAS PARAGENS"










Coisas... nos fazem pensar dia após dia
coisas da alma diria... se acreditasse nisso.
O verbo é esperar e esperamos sós ou sozinhos
pela vida... pela morte por nada e por tudo.
Esperamos para sofrer... para estar...para não morrer
tudo se resume na vida a uma desumana espera por isso.
O vento passa pelo mar que eternamente espera que passe
o vendaval que arrasta a desgraça de  outros caminhos.

Esperamos tolhidos no olhar... sem ver o que está a acontecer
mesmo que olhando... nos não queiram deixar mostrar-se.
Entorpecidos os rios sem tempo esperam a foz que se afasta
como se de um truque de magia inovada se tratasse.
Esperamos... porque nada de novo nos espera
a não ser... esperar não nos tornar-mos pesados
chatos... incompreendidos... velhos...do tempo
que se quer esquecido... por ser de tempos passados.

Esperamos para ver e... não pagamos o devido
porque a espera provoca-nos danos de alma
que se existir !... Faz momentos lembrados...esperar
que o tempo fique de todo... para trás esquecido.
Esperamos pela sorte sem esperança e pela morte
desde o dia que nascidos... sentimos um pouco de ar
sentimos no gosto a pele... um olhar um abraço e um sorriso
e por isso esperamos... o tempo todo... que for preciso.




 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

"MEMÓRIAS DA RUA RAM"

 
















A rua da minha infância era de terra batida
e de poças de água às vezes, ladeada por quintais
e muros. Um branco o meu e um castanho o de outros.
Tinha as covas dos jogos de berlinde e as marcas de carros raros
que por vezes passavam numa nuvem de poeira.
Passavam mais carroças e burros sem carroça
uma ou outra ruidosa mota e montes de bicicletas.
Era uma rua comprida estreita e torta
que envolvia o meu olhar das horas certas.

Nela me via a brincar mais um ou dois como eu
perdidos na tenra idade e no isolamento oferecido
à condição de meninos da rua sozinha...
No acerto das memórias fica-me rica em pormenores
então descuidados.
Passava à quinta feira a carroça, luzidia adornada
de luzinhas e flores de plástico do "azeiteiro"
que vendia tudo... um mercado feito de mil cuidados
do sabão ao vinho da aguarrás ao óleo do azeite ao petróleo
e tudo o que mais houvesse inventado.
Era um acontecimento de esperanças renovado.

Pela altura do Natal, passava o homem dos perus desvairados
obrigados a seguirem muito controlados rua fora
deixando um rasto de cheiros e borradelas.
À tarde passava um policia de mala...em passos curvados
a mesma mala lancheira...sempre com o ar dos policias.
Passava o amolador com a flauta e parava a flauta
para amolar tesouras, facas e canivetes.
Passavam os ciganos a vender ilusões e chicletes.
Ao anoitecer lá  vinha o "Zé da Maria" sempre coxo
e com um sorriso igual e coxo que fazia animar a malta.

Brincávamos naquela rua de tudo e os carrinhos
brincavam nas autoestradas inventadas no topo
dos muros estreitinhos.
A rua era iluminada por uma luz nos pontos escuros
e pelas fogueiras do S.João,S.Pedro e pelos bailes
enfeitados de vestidos às flores e xailes.
Servia a rua de campo de bola com bancadas de sonho
e golos perdidos.
Passava a peixeira com peixe sempre fresco às vezes.
O carteiro aparecia a correr e distribuía os pedidos
em envelopes às cores nas bordas que vinham da guerra
para lá do mar e para lá da nossa pequena terra.

Sentado no muro autoestrada ficava horas a tocar
viola num pau com fios de nylon à espera de brincadeira
trazida por outro ou de uma bola perdida renovada.
De noite a rua era mais escura mas via-se chegar
de longe os vultos que nela renasciam.
Um... especialmente, conhecia eu... pelo andar
umas vezes bem e outras mal disfarçado... diziam.
A rua da minha infância tinha de tudo um pouco
do mundo que não sabia.
Ainda lá está... renovada iluminada como se um dia
como dantes fosse... mais cheia de vida e confusões
mas para sempre...sem as minhas ilusões.




  

  

sábado, 7 de setembro de 2013

"HEMISFÉRIO TROCADO"

















Troquei os dedos da direita para a esquerda
parece-me assim que a escrita sai melhor
mas afinal a coisa não é tão simples
penso que estou sem querer a ficar pior.
Nas alegrias... fico triste de seguida
e nas tristezas... alegre fico também.
Sinto saudades... criadas de desesperança
chegam e penso... que vou nelas de partida.
Na solidão não me sinto às vezes eu
olho para o espelho... reparo que não estou só.
O tempo passa... num relógio que não é meu...
fico na vida... mas não sei ser sossegado.
Mas que raio de tristeza... que alegre fui arranjar
que de alegre não tem nada para me fazer alegrar.
Por onde anda o tempo... que me leva esta dança
sem encontrar eu o ritmo... deste som e deste par.

Troquei os dedos da esquerda para a direita
não resultou... estou a achar que troquei mal.
Sem anelar... com a troca pelo mindinho
perdi nas retas... nas curvas fiquei sozinho.
Sinto-me bem por me não querer ir deitar
se sim se não... acabo por  adormecer.
Fico feliz apesar da infelicidade 
deixo que a vida me lave... deste meu permanecer. 
vivo na vida... ao luar da lua nova
que me ilumina e me trás à realidade.
Não sei se faço do destino mais um fado
e se o passado é o tempo que me estorva.
Valeu a pena inventar esta maldade...  
Por isso avanço com o amor de braço dado
mãos do avesso... tornam a ideia estreita
daí pensar... que o hemisfério está estragado.






 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

"BIOLOGICAMENTE CONFUSO"














                      
Sou feito de tudo e de nada como a vida
dos dias melhores e anos piores
de tristezas alegrias de azares e harmonias
que escorrem como a água que sobe saída do monte
se fico virado ao contrário no sonho.
De saudades fica o tempo adornado
deslumbrado desajustado da hora real
como a cinza levada pelo vento que voa
em dias de acalmia como ar de envergonhado  
que esconde mais do mesmo e mais do mal.
A orquestra toca sem se ouvir... mas se sente
o vibrar e a beleza dos sons pressentidos 
melodia do dia e da noite... até que a alma nos doa
por um piano cansado ou mudo por tons ressequidos.

Deixo que o vento acorde e levante o mar
e este me envolva  lavando-me do passado
dos erros e do sal amarelado de maresia e gente.

O rio meio cheio  passa lento na procura do vazio
depende do ponto de vista em que é visitado.
Tudo se torna a espaços claro  como num copo partido
fora de tempo ou corpo abatido num canto de viela
onde passo desnoites com ela sem ver um filme sem fim. 
Olhar de nada sendo o alvo um fruto indesejado
que passa no escuro mais por verde que maduro.
Toca a orquestra no hotel e vejo-a de peito para mim
do alto... deitado me baixo para lhe dar a mão
a noite está cansada e eu no coração por um fio.
Mas... muito tempo passa desencontrado e perdido
num oceano batido pelo mar da madrugada deslumbrado.
Solta-se o tempo e o céu  cai de repente  com estrondo
em cima do que feliz ainda resta e do cansaço que repassa.

Não dou pela hora... nem ao chamamento respondo.
Os laivos da claridade atravessam o olhar mas não o rio
nem me faz diferença isso. É apenas o tempo que passa. 



 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

"CHAMAS DE VERÃO"





Maltratado está o leito que nos percorre de lés a lés
esburacado a eito... descuidado... por todos esquecido.
Marcados a ferro e fogo ardem carvalhos sobreiros
pinheiros e vidas arrancadas á esperanças e às graças.
O Povo não arde !... Consome-se em desvario alucinado
pelo lume que lhe carregam em cima noite após dia.

Maltratado o tempo que nos queima da cabeça aos pés
como se nada mais houvesse no tempo esquecido.
Marcadas a fogo saltam faúlhas lavadas em suor de bombeiros
ardendo de fé por ajuda que ponha fim às desgraças.
O Povo corre atrás de chama alimentada pelo vento danado
o fogo é rei costumado... queimando à sorte o leito que nos unia.



 

sábado, 10 de agosto de 2013

"DESNUDADO"















Fico despido indefeso perante tuas janelas abertas 
nessa teimosa escuridão de saber que se o sol não existe-se
sobre os ensombrados trilhos nascidos de tuas ruas desertas
se tornassem corpos nus que de esperança se vestissem. 

Privada de emoção a desilusão camuflada persiste-se
em vagas difusas levadas por ventos de ideias desertas
que sem rasgo tolhido que está de acerto no certo se insiste
lambendo as feridas abertas por setas nunca antes secretas.

 

sábado, 3 de agosto de 2013

"PINGOS DE PRAIA"

















Vejo por entre a névoa acalorada
os azuis do mar de praia esverdeado
e o céu espoliado de algodão e de nada.
Poças de água sossegada entre rochas polidas
enfeitadas de surpresas e limos multicolores
agitadas por pezinhos iguais baldes e pás coloridas.

Vejo algazarras açucaradas de borlas de Berlim
que rolam de boca em boca debicadas com areia
e cremes brancos e amarelos e cabelo esvoaçado.
Um peixe distraído que se deixa pescar à mão
um pescador  de palmo e meio deslumbrado
mais o som do vai vem de raquetes mil jogadas sem fim.
 
Vejo ondas que se levantam bocejando preguiçosas
batatas fritas de sal e mar que tardam em chegar.
Livros que vão a banhos por um dia ou minutos
depois de um ano de saco como joias preciosas.
Uma visita de um peixe aranha decerto agastado 
propaga pelo ar gritos com lágrimas de dor salgadas.

Vejo o Sol na vertical e as idas em massa cansadas
de chinelos ardentes desencontrados no dedo
os gritos das costas queimadas pelo banco de trás.
O peixe grelhado ou queimado a salada feita mais cedo
as gargantas ressequidas saciadas e a talhada de melão.
O sono que chega por fim a todos de mansinho...Ou não !

 

terça-feira, 16 de julho de 2013

"AMÊNDOA AMARGA"




















Por onde andas tu e o teu olhar
de amêndoa amarga selvagem.
Errática pelo tempo... salta-me a lembrança
de noites entre copos meio vazios.
Por onde andas nevoeiro aos tiros
nos tempos varridos de aragem que dança
envolta de risos de vales e precipícios.

Calculo-te no cimo de uma escada
envolto na neve  que cai descuidada
entre cada dura e irada martelada.
Como se uma sonata surda tocasses
numa pauta de papel memória e viagem
da andança que mudando levou a que mudasses
o que resta da doce amêndoa amarga selvagem.







 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

"SONHO DE PRIMAVERA"















Como é incerto o que nos amarra à pauta da vida.
Como é inconstante  o sentido do sonho que temos.
Momentos de menino... alegria incalma e inquieta.
Sons de piano em sonatas pintadas de primavera
que não toca sempre o que na vontade nos espera.
Às horas sobram como abraços que distraídos perdemos
no sal das lembranças de dias mal lembrados.
Soltam - se as horas em espaços desarrumados.

Vejo as solas dos sapatos dele enquanto corria
a subir o asfalto ao encontro do dever que tinha.
Com a cabeça entre as grades do portão que me continha
da vontade de seguir  o que o perdia.
Os sinais com um dedo disfarçado para uma sopa vazia.
Os ovos partidos sem precisar de na cabeça com eles levar.
As horas infindas na bomba...oásis de horta ressequida.
A bicicleta de peças inventadas... a jogada conseguida.

Como são inconstantes as visitas de sonhos encenados
saídos de vidas que plo tempo fazem parte de nós.
Peças de teatro ao acaso em espaços  recordados.
O sonho é assim...o cenário e o espaço de estarmos sós.
Soltam-se os primeiros sinais de nova aurora 
outro sol  acorda para a vida que está lá fora.
Termina o sonho de adulto visitado por criança 
nasce o chilrear... em ondas de mar... asas de esperança.














 

terça-feira, 25 de junho de 2013

"FUNDEADO"

















Mantenho a proa virada a Norte
e o radar ligado em constante rotação
para evitar surpresas...não vá o destino à garra.
Sei da tempestade que se adivinha
e das fracas hipóteses da barca resistir
à corrente que se vai tornando mais forte.
Nem sei se pressinto o bater do coração
se o cacho que se acolhe à parra vai cair
feito esperança de branco tinto e vinha.
Não vislumbro na rota destino calmo à vista
somente oiço um rumor que me fala de pouca sorte.

A vida está-se a cobrir de nuvens desordenadas
cinzentas brancas e pretas sempre apressadas.
As galinholas esvoaçam doidas ao meu redor
em algazarra permanente elas também confusas perdidas
na procura da melhores ventos e ondas... sossegadas.
Os pontos tirados ao fundear ficam difusos vádios
mudam sem licença pedir e... perdido perco o pormenor.
Se levanto ferro posso na tempestade perder-me em desvarios
soçobrar enredado por ventos cruzados e mal pensados
numa rota em que já conto sem querer o final dos dias
que separam a sortida deste imenso mar de vida e águas passadas.






 
 

sábado, 8 de junho de 2013

"TURNO DA NOITE" I
















(ser-se enfermeiro é: ser dor e sentimento...Anjo e contentamento)


São quatro da manhã passadas
sento-me agora um pouco...
as pernas estafadas...
a alma cansada.
Não olho sequer para o pão com marmelada
que displicente me olha num folha amarrotada.
É o pão da ceia deixada para entreter o tempo.

O meu pensamento continua a percorrer
um a um os que me tragam a vida noite fora.
Estão sossegados distantes... uns mais do que outros.
Contam comigo pressentem a minha presença a toda a hora
passo e despasso silenciosa atenta leve constante preocupada.
As luzes mortiças dormem as dores ficam no ar paradas
a dormir fingidas ou contidas até a manhã chegar.

Suspira-se a espaços em camas desencontradas
ao ritmo das gotas e micro gotas que entram em corpos
desalinhados violados pela doença encontrada.
Percorro o olhar estafado e seco as minhas gotas
que sem querer a espaços me querem sair dos olhos
se me detenho a pensar naqueles que estou a velar.
Há casos que me desnudam o sentimento.

A noite é a tortura do doente... que tenta o descanso
e o carrasco que trás o desencanto de um fim anunciado.
Sinto-me mais frágil  quando a morte não dorme.
Os sons e os suspiros escondidos são a minha companhia
tornam-se mais constantes de noite do que são de dia.
Volto de novo à ronda  com um sorriso que se não vê
que só eu sinto na procura dos cuidados que pressinto.

Gota a gota passam as horas e seco as minhas dores
de sono e preocupação.
Um afago repetido e palavras de conforto deixo espalhadas
por corpos despertos de dor ainda que de olhos fechados.
Sou o anjo eleito da noite que não pediram
que desejam sentir no sonho. Trago seus corpos guardados.
Sou a alma dedicada das almas que  escolhi na vida cuidar.













 

terça-feira, 21 de maio de 2013

"VOU DE VASCO VERSAR"












Vou passear com os meus lápis de cor
para pintar o que encontrar.
Levo na mão uma enxada já gasta 
para no campo ir cavar.

Às costas carrego a mochila
e o saco da minha merenda.
Nos olhos a paisagem do olhar
no pescoço um lenço branco de renda.

Vou plantar uma árvore, uma planta 
que um dia atrás de outro, dará um dia flor.
E na sombra que me restar irei fazer
um desenho para dar-te Mãe... com amor.

Ao lado vai o meu cão lindo e castanho 
que brinca e salta... sem parar um momento.
O sol fica atento a olhar o meu desenho
o rio corre parecendo que é ... levado pelo vento.

 
 
 
 
 
 
 










 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

"ACABOU-SE O ÓPIO"

 
 
 
 
 

 Por esta altura do ano está prestes a acabar o ópio do Povo quase todo.
 
Também ainda que de forma reduzida faço parte dessa camada de "drogados", que encontram na jogatana da bola, as panaceias para o esquecimento de todos os males que nos afligem e partilham o nosso dia a dia.
Gosto de ouvir alguns "relatos" na rádio e vejo em canal aberto um ou outro jogo.
 
Se esquecermos um joguinho que ainda falta (a taça de Portugal) é com temor que vislumbro os próximos meses dos apanhados em excesso pelo mundo redondo.
 
Vai descer o PIB durante mais  três meses, porque os grandes favorecidos da bola vão de férias para o estrangeiro (quase todos) e vão quase todos comprar novas viaturas Alemãs na sua maioria.
Por outro lado, privados de bola muitos dos viciados, vão ter de ir  para a praia (ou campo), gerando receitas que não contam para o PIB, nem para o IVA, nem descontam no IRS.
 Não há "bola" como a bola no pé e isso é pretexto para grandes programas científicos  na TV e na rádio.
Os outros desportos, que usam também a bola como meio de existência, são alvo de discriminação negativa.
 Não existem bolas de ténis, nem de golfe nem de hóquei com ou sem patins nem de andebol nem de baskett  (exceto a NBA), nem de outra coisa qualquer que na bola tenha a sua razão de ser. 
Bola é "bola" e mais nenhuma bola entra no dia a dia dos Portugueses que se veja.
 
 Dividem-se e debatem-se opiniões, rasgos de ideias, conflitos e confusões, por esta ou aquela equipe, por este ou aquele jogador, por este ou aquele treinador, por este ou aquele árbitro, enfim por tudo e por nada.
 Arrasta paixões a "bola" e entristece outras tantas, a "bola" também.
 
 Se a "bola" fosse um purgante! A bola e a fome dela teriam como resultado, encher o canteiro Português de uma enorme e infindável energia renovável que poderia tirar-nos  de algumas das dificuldades energéticas e económicas de que padecemos.
 
 Essa energia biológica verde se aproveitada, dava para pôr o PIB na ordem.... Mas não dá!
Não está explorada esta via de desenvolvimento tecnológico.
 
 Ontem no Porto um jovem estudante de direito, com mais bola, do que cabeça, quis medir forças à força, com o comboio que o levaria a festejar o título.
Quis  o destino que a bola se sobrepusesse à cabeça e o resultado foi, um jovem trucidado por um simples e inofensivo comboio.
Um jovem fora de jogo na vida, por o azar fazer parte do jogo e da vida.
 
Não serve de notícia tão triste acontecimento, nem uma paragem no jogo das ilusões ("da bola") desmedidas que tantos alcança e tantos  inquieta.
 
É este também um pouco do mundo da "bola" que vai agora para férias. 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

"A CARTA"


Recebi a tua anunciada carta
sentindo nela o teu sabor e cheiro
no papel ou na tinta não sei mas está lá.

Sinto nela o pensamento tido ao escreveres
as palavras mudas saídas sem me veres
por estares para além do mar estando eu por cá.

Vem selada com ternura como só tu sabes dar
molhada de um orgânico pingo da chuva descuidado
deixando em mim um olhar molhado difícil de disfarçar.

Leio-te e releio até decorar em mapa imaginário a distância
que nos separa o mundo... tornando o tempo parado
por não te poder abraçar num abraço de corpo inteiro.







 

sábado, 11 de maio de 2013

"CARDIORAÇÃO"





Para o meu coração bater
basta o teu peito e o teu sorriso.
A memória do vale em tua coxa
o pingar de gota no meu beiral.
O roçar de leve da minha barba
na almofada partilhada alva e roxa.
O olhar caído no ritmo calmo do rio
no dia a dia de continuado caudal.

Para o meu coração não ficar frio
basta ter no meu peito o teu olhar
A sensação de sonhar acordado
de minha boca a teus lábios chegar.
Um brando lume mantido aceso  diário
um xá de água morna  limonado.
O teu abraço terno sincero e solidário
num gesto contido que tornas sempre banal.

















 

"PENSAMENTOS DE MAIO"

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sem saber bem a razão, Maio vai continuar a ser no kácus o mês do pensamento.
Seria fácil e menos arriscado, neste contexto idealizado, transcrever o artigo do ultimo Maio.
 
Em 2012, já me referia quase que exclusivamente à situação lastimável para que a sociedade Portuguesa se encaminhava e os seus malefícios a curto prazo.
Tudo o previsto aconteceu e tudo o previsto se agravou ainda mais.
 
 O Maio de 2013, trouxe-nos a continuada degradação das condições de vida a todos os níveis da sociedade e a deterioração do emprego em todas as camadas populacionais, com predominância revoltante e injusta no emprego jovem.
 As andorinhas imigrantes voltaram aos beirais de todos os anos, agora mais degradados, mais abandonados, por ausência de muitas outras andorinhas que emigraram para outras paragens, não em busca de Sol, mas em busca de pão e vida própria.
 Tanto umas como outras, estão mais tristes, como mais triste está o Sol que aquece as primeiras e o Sol que ilumina as segundas.
 
As manifestações do 1º de Maio foram também elas um sinal da amorfidade em que está o País mergulhado. Um Povo cansado é um dos sinais mais inquietantes deste Maio de 2013.
 Nada de bom se augura no horizonte Nacional e  Europeu e nada obsta a que a esperança de milhões de seres humanos se esvaia sem sentido e sem rumo nos tempos mais próximos.
 
 Espalho por entre o Mundo o pessimismo que trago dentro do pouco espaço cinzento que resta, ao mesmo tempo que me aposso de todas as formas  possíveis  de pensar, tendo em vista manter a fé no futuro dos ramos da minha árvore criada.
 Não está fácil não pensar no mês de Maio nem nos outros meses parar de pensar. Maio o mês do pensamento continua ainda vivo, porque é também dia da Mãe e dos filhos e de paragem para recuperar o fôlego cada vez mais distante das memórias dos Maios de  papoilas vermelhas e flores amarelas, dos grilos, das espigas douradas e do voo andarilho das andorinhas alegres.
 
Maio! O intervalo de um filme já visto e gasto, que se repete ano após ano, com uma imagem cada vez mais degradada e degradante. Com menos espectadores e menos sessões, menos pipocas e menos risos ,sorrisos e gargalhadas.
 
Resta a esperança, se esperança ainda existe, de que o próximo mês de Maio no kácus não seja possível  de escrever como um simples copy & paste.