(ser-se enfermeiro é: ser dor e sentimento...Anjo e contentamento)
São quatro da manhã passadas
sento-me agora um pouco...
as pernas estafadas...
a alma cansada.
Não olho sequer para o pão com marmelada
que displicente me olha num folha amarrotada.
É o pão da ceia deixada para entreter o tempo.
O meu pensamento continua a percorrer
um a um os que me tragam a vida noite fora.
Estão sossegados distantes... uns mais do que outros.
Contam comigo pressentem a minha presença a toda a hora
passo e despasso silenciosa atenta leve constante preocupada.
As luzes mortiças dormem as dores ficam no ar paradas
a dormir fingidas ou contidas até a manhã chegar.
Suspira-se a espaços em camas desencontradas
ao ritmo das gotas e micro gotas que entram em corpos
desalinhados violados pela doença encontrada.
Percorro o olhar estafado e seco as minhas gotas
que sem querer a espaços me querem sair dos olhos
se me detenho a pensar naqueles que estou a velar.
Há casos que me desnudam o sentimento.
A noite é a tortura do doente... que tenta o descanso
e o carrasco que trás o desencanto de um fim anunciado.
Sinto-me mais frágil quando a morte não dorme.
Os sons e os suspiros escondidos são a minha companhia
tornam-se mais constantes de noite do que são de dia.
Volto de novo à ronda com um sorriso que se não vê
que só eu sinto na procura dos cuidados que pressinto.
Gota a gota passam as horas e seco as minhas dores
de sono e preocupação.
Um afago repetido e palavras de conforto deixo espalhadas
por corpos despertos de dor ainda que de olhos fechados.
Sou o anjo eleito da noite que não pediram
que desejam sentir no sonho. Trago seus corpos guardados.
Sou a alma dedicada das almas que escolhi na vida cuidar.
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