Fico sentada no banco quase seco
os pombos namoram distraídos
meus filhos já são crescidos.
Vivo aqui com o meu saco de palha
parco de fé e dois nacos de pão
um já seco outro ainda não.
Estou muito bem não fosse o frio
que me trespassa o corpo que falha
me seca os lábios que já não beijam.
Precisava de um banho de amor
estão esquecidos que estejam
eles já são crescidos.
Passam crianças a rir e casais
de mãos dadas com a esperança.
Já passei assim também que
inda tenho lembrança.
Empresto amor se me calha ocasião
sem promessas só moedas fugidias
para dois dias de renovada ilusão
que guardo na caixa da igreja
que fecha à hora certa
até Deus cumpre o horário
eles são ao contrário.
já são crescidos.
Caí neste banco não caí no chão
não se pode cair onde se já caiu
perdi já a noção se tenho coração.
Revejo na mente o sonho que me mentiu
entre ralhos sobrantes de pancada
em noites e dias de amor perdidos
já são crescidos.
Tudo ficou na minha aldeia de infância
só a idade e o medo me afastou
nesta graça inteira desgraçada.
Resta-me o perdão não me procuram
já tenho pouco para dar são tempos idos
já são crescidos.
Os pombos voaram para o adro da capela.
saem novos pombinhos sob arroz e pétalas
entre gritos de desejos e sorrisos de janela
eu assim também saí de branco e rendas
ao lado do fato preto dele
oferta do Pai que batia e dava prendas.
Tudo passa por mim só neste banco
minha casa meu jardim de sentidos
eles já são crescidos.
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