quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

"INSÓNIA"






















Há noites sem graça!

Fico às voltas na cama...
parece que o tempo não passa.
No escuro faço conversa com a brasa
de um cigarro mal fumado.
Sinto o teu odor descuidado.
À minha volta volteia o escuro 
e o colchão torna-se imensamente duro.
Arderam os últimos centímetros de morte
e "volto-me" de novo...
para a razão deste desnorte.
As ideias saem de mim a esmo
qual razão... qual chamamento.
Lá fora a noite torna tudo... no mesmo
como um ausente e misterioso afago
sem razão aparente me parece
sinto nela um fraco aliado.
Será porque lhe pertenço
nesta dor que vai doendo por dentro
estando eu a sonhar acordado.

Como a noite espera o dia
assim eu fico...
de volta em volta.
Os olhos não vêm aquilo que gostava.
De um lado a vida vazia
de outro o amor mal tratado
e de outro a noite permanente.
Sinto a vida um barco dormente
amarrado a um imaginário cais
e pergunto - me se saio... ou não sais?
A custo refreio um desejo malfadado
percorre-me um certo medo
de soltar amarras.
À minha solidão junta-se o andar dos ponteiros
que ali parecem estar em segredo.
Por mais motivos que procure
não encontro a razão...
haverá alguma que perdure?
Ouço os ruídos do dia...os primeiros. 
Pareço-me perdido... entre o sim e o não.
O nosso espaço de metro e meio sem razão
torna-se uma avenida...mais morta do que viva.

Acabo por adormecer
apenas por minutos...
Um pequeno estrebuchar torna-me o olhar aceso
fico de novo no ar... mas ainda preso
o sono do lado viaja não sei por onde.
Invade-me uma acalmia
que não sei explicar ao certo
que me faz esquecer a hora tardia
a alma vazia... como se fosse gente
furtiva... inexistente.
Embora longe... estamos ainda perto
unidos por um amor molhado e ausente
que a tarefa esgotante da vida já pressente.
Parte de amor sinto...ainda me aquece
agora que o dia atrasado... Amanhece. 




















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