sábado, 24 de dezembro de 2011

"DO NATAL"

 
 

















Fui levado em Dezembro penso que ao desbarato
da quinta do Vale de Baixo da cabana do meu tio.
Desconfiado...  temia pela  minha sorte futura
já que nasci por diferente assaz desengonçado.

Fui levado amarrado indefeso em rápido desvario
largado assustado levei com dois copos de bagaço.
Por lá tonto fiquei sob desconhecida amargura
queria ver mas já não podia... via tudo nublado.

Com a cabeça perdida inda por cima entrapada
pensei num fado cantar... aquele do embuçado.
Confesso estava com frio com a vida mal parada
de pernas entre a cabeça sentia-me até enjoado.

Ouvi a porta ranger braços fortes me levaram
gritei com todo o meu querer entre gritos de cagaço.
E logo pobre de mim previ que não valiam de nada
Levado aos tombos gritei senti-me na margem de um rio.

Depois de tanto desatino senti a que me destinavam
previ a faca a descer direta a meu fino pescoço.
Pedi de novo a gritar apenas mais um bagaço
se era para morrer ao menos que fosse mais "grosso".








 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"DO BRANCO E PRETO DO MAR AO AZUL E VERDE DO ALBATROZ"













Pego nas imagens como que perdido no ar
troco-as de posição.
Deslizam-me pelos dedos e manipulo-as
ao prazer do coração do momento.
Voo num céu de Albatroz pelo meu mar de sempre
pela beleza dos lugares por tempestades vividas.

Junto ao voo picado um pouco de arte
em voo rasante numa voz que não inventei
e lembranças de voos que voei entre saudades.
A vida tem destas coisas  corremos sem fim
à procura  de uma  razão de uma parte de mim.
Derrubando escolhos sulcando tempestades.

Abraçando memórias sob asas sentidas.
Falta-me por vezes o ar quando voando
por tanta força do vento vezes seguidas.
Sempre o mar volta de novo acordando
do dormir que sonhando pensei voar
quando planando me vi suspenso no ar.




 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

"A CRISE DA GENTE... QUASE TODA"

A crise da população Europeia é ! Analisadas  as causas uma situação infelizmente natural.

Depois da euforia  pós-guerra e do desenvolvimento tecnológico, industrial e educacional  milhões de pessoas apoiadas pela criação de um estado social  forte (ainda que com fim a prazo por descuido na sua monitorização) originou pela primeira, uma forte inclusão das mulheres nos sistemas do trabalho na vida colectiva da sociedade e na luta pelo poder que a breve trecho se lhe oferecia alcançar.

Todos os paradigmas sociais vigentes até então se alteraram profundamente.

A revolução  tecnológica e cientifica a par da massificação global e popular proporcionada pelos meios informáticos. dispersou e desbaratou todos os conceitos e modos de viver ao longo de décadas estabelecidos, entrando a sociedade não só por isso mas também, numa espiral de consumismo e ignorância funesta e letal ainda que lícita acabando por assumidamente alterar o modelo que fazia da  família o núcleo central da cultura Europeia.
As mulheres saíram à "rua" e juntaram-se  aos homens em todos os dominíos do conhecimento ao mesmo tempo que a sua presença como pilar da família  na maternidade e na procura da  harmonia entre as discórdias quer familiares quer geracionais deixou de ter a relevância anterior.

O tempo rareou para tanto que  fazer e a sociedade cavalgou os desvarios dos também eles deslumbrados  governos de toda a Europa .
A par de uma cultura sem par conseguida e de um desenvolvimento galopante, a sociedade descurou (qual mau aluno) por exagero primeiro e omissão depois, as regras básicas do comedimento e do bom senso, da participação e da partilha do bem estar com os seus mais próximos, ao mesmo tempo que ignorava e fomentava o abandono de camadas da  população que por falta de meios de orientação e vontade iam ficando para trás.

Assim ! Os governos em conjunto ou isoladamente actuaram (embora nem todos, veja-se os países do norte da Europa) despolidamente e despudoradamente, como se tudo fosse fácil desprezando e auxiliando o desprezo das regras da responsabilidade, deixando ao mesmo tempo ao sabor do vento os valores culturais, éticos e sociais que são a salva guarda das sociedades modernas (quando cumpridos) ou a desgraça dessas mesmas sociedades.
Estado em que actualmente nos encontramos nos países da Europa central e do sul .

A vida e o ritmo actual do modo de viver não se dão bem com os "valores",  nem com a calma e ponderação que devem estar presentes quando se lidam com milhões de necessidades de populações que basicamente continuam a ser semelhantes nos seus anseios e expectativas, como sempre ao longo da história sucedeu.
O objectivo no material destruiu os valores do pensamento, da cultura quer espiritual quer solidária
 relegando - os  a todos para o último patamar dos interesses em curso.
 Nos novos tempos que atravessamos chama -se para servir de interluctor ainda que mudo, o interesse pessoal o do grupo e ou partidário, favorecendo assim a  desculpabilização global pela perda acentuada dos valores morais e éticos no tempo da globalização que supostamente deveria ser um fator positivo.

Nada foi à luz da racionalidade digno de nota  feito de modo genuíno e sincero para mudar aquilo que sempre esteve mal  e parece continuar, casos do desenvolvimento de relações Internacionais justas e desinteressadas entre Estados tendo em vista a uniformidade do bem estar entre os Povos, tendo como base  a partilha dos que mais podem e têm pelos mais carentes  (pessoas e Estados) de modo a não criar (pelo menos a não deixar aumentar) as diferenças abismais que se conhecem e propagam  de uma forma conseguida e irresponsável .

Deixando de lado (não por ser despiciente) o desenvolvimento acelerado no combate às doenças e epidemias que assolavam populações e países em todo o mundo, passando (ainda que registando, o grande desenvolvimento que permite agora (grande problema este) que as populações tenham uma maior esperança de vida) tal evolução complicou contudo ela mesmo todo um sistema que, pelas razões já apontadas, não preveniu ou não quis prevenir esse novo desiderato da Humanidade.

A realidade  mostra-nos que em pleno século XXI estão os Povos Europeus de novo à beira de um abismo e na dependência de novo de uns tantos (eleitos ou não) para  resolverem as suas necessidades básicas como sejam o direito ao trabalho, o direito a poder organizar-se como família, o direito à habitação e o direito a um estado social que lhes escapa por inépcia dos poderes constituídos, deixando-os a todos e aos vindouros num verdadeiro dilema organizacional  de  como ter uma vida com esperança  virada ao futuro e para uma realidade bem mais compreenssível.

Desvalorizada a cultura e o conhecimento técnico, a par de um  incentivo ao consumo desenfreado e desresponsabilizado surgem por todo o lado bolsas de pobreza e milhões de subsidiados por um conjunto de  Estados que socialmente se encontram agonizantes e desautorizados pelo poder dos credores dos desvarios cometidos.
Quem paga manda e nada como a situação actual para demonstrar esta verdade agora tão propalada e ao mesmo tempo tão repudiada.
Regrediu a História e todo o desenvolvimento técnico de nada para estes problemas serve ou pouco serviu.
Multiplicam-se as manobras económicas com vista ao lucro de alguns (muitos) que benevolamente dizem ajudar o colectivo a troco inevitável de lucros chorudos.

À beira de um período nublado e nebuloso, os Povos da Europa unida ou não,  estão como dantes só que com telemóvel, fibra óptica e paz  no que à tradicional guerra diz respeito.
Tal no entanto não é liquido que se mantenha por muito mais tempo, pois à  paz  social descontrolada, ruinosa, continuada e sem fim à vista, pode ser (quase sempre foi) o prelúdio para conflitos sociais mais  graves quando não guerras  mais ou menos alargadas.

Todo o mundo está em ebulição e sente-se o tremor de um vulcão cujo cone não se vislumbra o local  exacto, mas que ao explodir  muita lava sob a forma de milhões de desempregados e não só, derrubará estruturas sociais já de si frágeis e por consequència a ordem atual estabelecida  dos países Europeus. Como de resto está a acontecer aos países do Norte de África e Oriente nestes casos por diferenças politicas importantes é certo, mas com resultados sociais identicos.
O futuro agora  que o egoísmo venceu e a solidariedade se encontra esquecida, é apenas pautado pelo  maior lucro possível da alguns e está de modo a que não se possa  prever nada de bom para os tempos mais próximos.
Impensável manter este estado de coisas por muito mais tempo na Europa amiga  mas conhecedora dos tempos duros, das maiores atrocidades entre os seus membros e que navegam de cimeira em cimeira carregados de diferenças e de dívidas uns aos outros,  num  lodo e longo caminho de dificuldades semelhantes, à procura da utopia, da diferença negativa mais do que positiva e num modo apressado de vida que esquece o essencial, que a meu ver são as pessoas.

Prevejo grandes convulsões sociais de novo a par da já guerra actual pelo poder económico e tal não me parece que se possa evitar, porque cada um dos representantes da comunidade Europeia, é só por si,  já  um produto do meio e do ambiente em que foi criado.

A homogeneídade aparente da comunidade Europeia é ela mesmo reflexo de grupos de interesses  facilmente manipuláveis pelos mesmos de sempre a saber os EUA e a China.
A Rússia entretida no saque a que internamente se dedica entre Putins e amigos perdeu todo e qualquer tipo de peso opinativo mundial e apenas o peso das armas a mantêm como interluctor a espaços.

As economias emergentes são isso mesmo emergentes e a breve trecho terão os mesmos problemas (que a Europa tenta agora resolver) derivado ao consumismo que os seus povos estão agora a descobrir e a que naturalmente se sentem com direito.
Pede-se nestes casos o comedimento que evite o  descalabro. Tal  não se vislumbra e os problemas começam a surgir por todos os lados: Inflação no Brasil e conflitos sociais e desemprego nas províncias  Chinesas mais ricas e desenvolvidas.
Mais uma vez a globalização descabida e o lucro desenfreado, fazem o seu papel. Reflectindo; O resultado será semelhante ao estado actual em que a Europa se encontra a breve trecho.

São por isso muito negras as nuvens que se aproximam tanto mais que um Sol  parece querer tardar nos maestros mais ou menos eleitos, que para já parecem nem as notas saber aplicar às partituras que atabalhoadamente, cada um para seu lado, tenta escrever no concerto das Nações Europeias.
Serão os tratados de Lisboa e os precedentes ainda tocáveis para uma população envelhecida e para várias gerações de  jovens inaproveitados e desiludidos ? Veremos.

Não será o Povo embevecido pelas facilidades e cenouras que lhe foram acalmando a existência o principal culpado ou o mais perigoso agente do mal.  Mas que tudo lhe irá cair em cima a mando de  muitos outros que mais mereceriam estar presos, disso, não me restam grandes dúvidas.
Como sempre, a história  assim escreveu..."o mexilhão é a primeira vitima da tempestade no Mar"



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

"UM POUCO DO TEU OLHAR"




Nessa noite eu vou lá estar mesmo mais do que em pensamento
não serão os quilómetros que me farão desistir de nessa noite voar.
Vou ver cada momento e vou - te ver a ti a dançar com os mesmos olhos de sempre
vou-te ver saltar, torcer e suar e poder  num breve sinal dizer-te que estou a olhar.

Nessa noite eu vou lá estar mesmo que seja meio dia no lugar que eu pisar
vou estar louco de alegria e inveja de quem está no meu lugar que em tanto lugar ocupei.
Vou lembrar todas as danças que eu já  te vi dançar, todo o tempo que à vida ganhei
olhando no teu olhar o quanto dançar dançaste perdida no teu jeitinho que sentia  no teu olhar.

Um pouco do teu olhar verá  nos focos da sala, ao fundo; Um ponto  pequeno e luzente do outro lado do Mundo.
E bem lá no meio verás  entre mil  brilhos dos  teus um  brilhozinho distante
vindo do  meu fraco olhar  rebelde que não seguro ao ver-te rodopiar  num instante
sorridente  e feliz como sempre... por sempre estares para mim a dançar.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

"APNEIA DO PENSAMENTO"















Posso sem querer ou esforço de qualquer tipo
parar de pensar ou relembrar os caminho  percorridos.
Para isso carrego as cores na paisagem e na paleta
primo a tecla play e rapidamente o pensamento ripo
até me cansar da mesma musica ou da tremida imagem
ficando assim aquietado num mundo misto de sentidos.

Exercício solitário este que faço de sons esquecidos
entre desertos glaciares que não deixo deixar de sentir.
As voltas pelas cores chegam-me pobres por incapaz luz
das estrelas que vislumbro na cauda  fugaz do cometa
que passa sem hora marcada sem avisar sem eu pedir.
Será poema insolente a parir renascendo em contraluz.

Redobro de novo o empenho na cor dada ao pensamento
vincando a pincelada à chegada de onde mais queria partir.
Fazendo apneia sentida do ar que já inspirei desolado
fixando a atenção na memória cristalina que sinto nua.
Deslizo então o olhar nas sombras que o ar inda respira
do lado mais claro depois escuro da fase oculta da lua.

Os sons abraçam-me e eu saio do breu angustiado
evitando voltar a perder-me no vazio da vã mentira
escusada  estúpida resultado de mal pensado  dejeto.
Sinto que um rio de águas tépidas a meu lado corre
tornado em forma de amor que de braços abertos aperto.
E o som que de inicio sem querer ouvia suavemente morre.







 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

"A PROVA DOS NOVE"


Agora que a Espanha, Itália, Grécia e Portugal estão por diferentes maneiras com a casa arrumada após eleições livres no caso de Portugal e Espanha e líderes impostos (os tais tecnocratas) na Itália e Grécia, cabe à Alemanha e à França fazer o seu trabalho de casa a preceito de modo a que toda a União Europeia como se prevê, não desmorone.

A capacidade de alguns  Povos Europeus está perto do esgotamento e perto do insustentavel devido ao desemprego e às medidas impostas pelos "mercados financeiros" algo que ninguém parece descortinar onde começam e acabam na sua gula (será gula) de lucros chorudos.

Vão ter de mudar muitas das regras nas relações Internacionais e nos mercados financeiros a par dos  comerciais. Espera -se  para ver: finalmente a União Europeia (enquanto conjunto de Países com projecto económico e politico comum) ganhar a capacidade de implementar medidas que reforcem essa mesma união e se preciso for modificarem à "letra" (alterando-os),os tratados e medidas neles contidas  feitos muitas das vezes  na base do «foi porreiro pá» ou seja quase quase em cima do joelho.

Os Povos! Se bem informados, tudo farão de bem ou de mal conforme as circunstâncias e o cariz dessas mesmas reformas que urgem.

A França à beira de um colapso não é um País que dê grandes garantias e a Alemanha está longe de apresentar um quadro de estabilidade por muitos esforços e medidas  que a  Merkel aplique se sozinha.

A Inglaterra como sempre espera para ver e não quer (mais do que o estritamente necessário) grandes misturas pois tem a possibilidade de perante uma desagregação Europeia se manter à tona e governar-se como sempre o tem feito.
Embora exposta ao desgraçado estado do Euro, a ele não adere e sabe-se bem porquê.

O BCE vai ter de mudar o paradigma de funcionamento e colocar-se ao serviço de todos os Países de uma forma igual, de modo a gerar confiança  nos mercados nos governos e sobretudo  nas populações.
Não injectando dinheiro à toa como os Socialista (sempre eles a querer gastar) propalam mas de uma forma inteligente e precisa.
A democracia está a ser invadida por não eleitos por falha continuada dos sistemas partidários e por toda a corrupção e incompetência que estes arrastam atrás de si.

As relações com a liga Árabe e com os Países em fase de mudança tem de ser revistas e de uma vez terão de deixar de ser passados cheques em branco aos EUA e aos seus aliados petrolíferos, sorvedouros de  riquezas  chocantes e incalculáveis que usam a seu belo prazer para ruína de muitos dos seus Países vizinhos e paz mundial.
A Arábia Saudita é um financiador dedicado a todas as causas terroristas e governos dúbios que acolhem esses mesmos exércitos do mal.

As relações com a Rússia devem ser pragmáticas e consistentes tendo sempre em conta que nada de bom se espera da poluição social em que vivem depois de frustrada a democracia  Ocidental e implementada a  democracia "à moda do Leste".

O Médio Oriente  está de novo   em   vias  de  se transformar  numa grande bola de fogo  devido ao desleixo  com que se olha  para a situação do Irão e para o aparente e camuflado apoio que se dá aos Judeus de  modo a que sejam eles a largar os foguetes.

Estão os dados lançados e uma nova etapa se aproxima tanto mais perigosa  por  ser a última hipótese de continuidade do projecto Europeu e da paz Mundial.
A federalizarão   da  Europa   deve  ser  o  passo seguinte,  rápido e sem ambiguidades.

Será isso possível com os actuais dirigentes e com as actuais dificuldades provocadas por tanto erro de cálculo?.
Serão os erros premeditados?
Com  a Espanha arrumada eleitoralmente  pouco espaço resta aos dois auto-eleitos  líderes  da  União  Europeia  pois estou em crer que ao contrário da Itália e da Grécia os Espanhóis não são mandáveis por troikas como aliás já o provaram (vide o acabar com as pescas e agricultura medida que eles ao contrário de Portugal nunca implementaram e bem como se vê)

Não me refiro a Portugal neste contexto futuro porque como sempre o nosso "fado" apenas pode aspirar a ser património Mundial e mais nada.

Resta-nos navegar na esteira dos outros de novo a remos já que as velas essas vendemos de tanto em arco embandeirar.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

"AFRICA MINHA"




 Para lá de tudo  ..... Africa  traz-me sempre à memória um rosto emoldurado por um cabelo grisalho  um sorriso  largo de morrer, um porte de Senhora, uma educação sem fim e uma amizade genuína.
É a  esta  Africa  que neste Natal  presto a minha sincera homenagem embrulhada em laços de profunda gratidão e ternura.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

"SONHOS DO ARCO-IRIS" I

 
 
 
 
Imagens e momentos que me marcam e ocupam o espaço vital no tempo que vai passando,
na justa medida em que saio de mim cada vez com mais ligeireza e consciência.

Percorro assim o passado que gosto o presente que me atura e um futuro que se esgueira num céu de todas as cores enfeitado de arcos-íris numa nuvem de saudade e amor... à minha maneira.


 

terça-feira, 8 de novembro de 2011

"O QUINTAL DO MEU PAI"



O meu vizinho tem um quintal  grandote, onde diariamente passa horas (ele e a mulher) a plantar ou a semear a regar e  a tratar da saúde aos grandes frangos e galos quando não coelhos que criam numa capoeira minúscula mas "acolhedora"
(escusado será dizer que a saúde dos bichos de tão bem tratada depressa os leva para a arca congeladora que possui na garagem).

Tomates,curgettes,abobaras,figos,e até por vezes umas enormes metades de frango são algumas das ofertas  com que de tempos a tempos nos regala tal o excesso de produção.
É simpático da parte dele e nota-se com facilidade que os tomates ou qualquer outro produto são de boa e diferente qualidade (para melhor), do que os produtos do vizinho do Pingo doce.

Um dia destes, estava a olhar para o quintal do meu vizinho (antigo operário industrial ao que sei) e lembrei-me que também o meu Pai tinha um quintal que tratava nas horas vagas e não vagas.

Fazendo por esparsas lembranças a analogia, logo me saltou à vista uma realidade que até então não me tinha ocorrido.O quintal do meu vizinho embora um pouco maior do que o do meu Pai é uma autentica SELVA!.
Passo a explicar:

Ele planta as coisas que acha dever plantar mas sem qualquer arrumação ou seja é couves pelo quintal  perdidas é tomates pelo quintal achados e há  por onde calha vasos com flores ao deus dará, as árvores de fruto por onde deu mais jeito crescem e a  inevitável estrumeira mora junto ao portão da entrada.

Batatas não semeia  talvez porque seja preciso cavar a terra mas para o feijão verde faz umas gaiolas que mais parecem um exercício de canas e paus a esmo que por milagre se conseguem controlar numa vertical mais ou menos duvidosa.
A rega é de mangueira mas aí nada a contestar, os poços não se compram fazem-se quando é possível.

O quintal do meu Pai, que era cuidado e ordenado com cada coisa no seu lugar....  Parecia um jardim.
As tardes de Domingo eram destinadas a tratar daquele trabalhoso e útil  hobby quer fosse a plantar, semear,  regar ou simplesmente reparar.

O poço a roldana a bomba e a  Martine !
Tínhamos um poço bem fundo que nos dava água "bebível" à luz da higiene desses tempos e uma bomba que tinha já substituído o velho balde que subia e descia pela roldana encavalitada em triângulo por cima .
Ao lado havia o tanque que com a bomba se enchia mais ou menos numa hora "pedalando" bem.

Depois era um regalo ver a água encarreirada com destreza e perícia pela sachola que o meu Pai manejava  para os canteiros certinhos e alinhados em duas ou três fileiras ao longo da área destinada.

Tudo batia certo e tudo era bem regado e toda a água tão lenta diria a entrar no tanque se esgotava mesmo de forma parcimoniosa em poucos minutos.
Lá se voltava a dar corda à bomba e aos braços por mais uma hora e assim se enchiam e vazavam quatro ou cinco tanques numa tarde.

Tínhamos variadas árvores de fruto, batatas, cebolas, feijão verde.alfaces, tomates,e tudo o mais que se costuma ter, até melões e uvas em latada, mas o que é mesmo de relevar, era o aspecto cuidado da horta em si no seu conjunto.
É esse ponto, o aspecto... O que mais me chamou à atenção aquando do olhar descuidado que lancei sobre o quintal descuidado do meu vizinho.

Eu pouco fazia e pouco produzia nesta rotina agrária das tardes de Domingo.
De quando em quando dava à bomba mas sem a genica que os braços musculados do meu Pai imprimiam à rotação do engenho pelo que era afastado por falta de rendimento.

Não imagino nos dias de hoje alguém usar o método então usado, era um esforço enorme ainda que saudável,  exigia tempo e tempo hoje não há.
Não há tempo e não há hortas como aquela naquele local nos tempos que correm.
A bomba hoje chama-se Multibanco e a horta é de todos.

As galinhas da minha mãe eram contudo mais pequenas  do que as do meu vizinho e mais tenras digo eu. Eram alimentadas com as couves e outros vegetais mas ou por raça ou por falta de tempo passavam pouco tempo na engorda.

Tínhamos rolas e pombos que a minha mãe despachava para o tacho com uma rapidez digna de nota e que começava com um fazer rodopiar a ave três ou quatro vezes no ar partindo-lhes o pescoço. Os coelhos se não lhes dava a "coisa" (moléstia ou otites) eram um regalo no tacho em guisados de comer e chorar por  mais, as aves íam para umas "canjinhas" saborosas (por isso ainda hoje adoro canja).

Por falar em coelhos o meu vizinho deu-me à uns tempos um coelho  que de tão grande que era durou congelado lá por casa  mais tempo do que o tempo que viveu.


Nunca encheu um tanque de água !!!rrsrsr
Era um quintal bonito e bem tratado, verde e arrumado o quintal do meu Pai, lá isso era ! Não posso esquecer que a manutenção dele tinha também muita colaboração da minha Mãe.


o quintal do meu vizinho
 É uma selva engraçada o quintal do meu vizinho lá isso é ...mas que por vezes dá jeito lá isso dá.

sábado, 5 de novembro de 2011

"BRAINSTORMING EM OUTUBRO"



Torço e retorço o pensamento como se faz à tripa do animal
este parece que exercício, deixa-me bem e sinto que me deixa mal.
Passam por mim as imagens de um filme que já não vejo
com atores pobres que não conheço e sinto  sem alma e sem desejo.

As árvores dão-me a sombra persistente que não procuro
o luar ilumima-me o dia a dia que atento vejo mal
A vida me lembra que o chão de tanto pisado está a ficar duro
fazendo do passado um futuro sem brilho e sem sal.

Passeio pelo monte, agora  descendo cuidado e vejo de cima o passado
que por me ser ido me deixa mais solto e arredio das tintas e das cores.
A descida é a sensação mais sentida de momento a que estoicamente sou dado
mesmo que o Sol queime sem sentir, mesmo que não veja as flores.

Nunca dei grande valor às flores é verdade, apenas as tolero
não paro para as apanhar selvagens ou soltas, sempre as comprei.
Daí o sentido ausente que sinto ao querer pintar o que não quero
talvez um rio, um rosto, um mar mas nunca flores isso eu sei.

Gosto do cinzento, do preto e da cor ausente do dia
por isso. talvez por isso, fiz as coisas que me mandava fazer o peito.
Deixei a corrente levar-me para a praia do desejo de um dia
ancorado fico no porto com a certeza de ter feito o que não fiz ao meu jeito.

Ao ler este "Stormingbrain" dá-me gozo por ser parecido com uma bostada
não há filosofia que o defenda nem palavras alinhadas com o esquema.
É a verdade nua e crua e a minha claro está, é um pensamento de nada

mas é meu e do deserto, desalinhado é certo, mas desalinho não é coisa que se tema.




quarta-feira, 24 de agosto de 2011

"O CHESTER"

O Chester é um urso "pardo" que me deixou saudades aquando de uma das andanças pelo Mundo, mais propriamente  pelo Zoo de San Diego.

Era (não sei se ainda é vivo) um animal de grande porte e simpático para os milhares de visitantes que por ele diariamente passavam e faziam toda a variedade de "macaquices" no intuito de o provocarem ou conseguir mais do que o único gesto que o "Chester" com bonomia se dignava dedicar-lhes, não mais que um singelo adeus com a "patita" e um sorriso amarelo como quem diz «vão-se embora animais".
Era simpático tinha ar de boa "pessoa" e via-se nele (eu pelo menos) sinais de  ingenuídade e sabedoria  nos   quais me revejo, não sei se bem, se com ou não razão.
Desconheço se tinha mulher ou  ursa nem sei se era Pai.

Todo este arrazoado palavrório vem a propósito de  por vezes me sentir um urso parecido com o "Chester".
Tal como ele, no espaço a que estou confinado, vejo  por mim passarem das mais variadas formas e modos e meios autênticos animais (diria ursos e ursas) que com as suas atitudes macaquéticas se parecem em tudo confundir com os visitantes de um qualquer Zoo em que evidentemente me sinto no papel do lembrado Chester.

Vem me por isso, mais uma vez o "Chester de São Diego" à ponta dos dedos  para,  por ele inspirado, tentar  feito urso,  reparar não reparando, as atitudes e as macaquices de ursos e ursas que me passam pela vida.

Parece que existem pessoas nas quais me incluo que nasceram entre outras coisas para fazerem figuras de urso, ao passo que em sentido inverso há pessoas que nasceram com o intuito de fazerem de conta que os outros são ursos.
Resta a grandeza e a denúncia para quem como urso é tratado e é nesse contexto que coloco este rosnar de típico urso Portugues de gema.

Nada pior para um urso do que uma ursa sem vergonha na cara  mesmo que aconchegada pelos guardadores da fauna que pululam na  floresta Ibérica.
Os tempos mudam é verdade e a fauna muda de habitat conforme as estações do ano e os  tempos conturbados e incertos que atravessamos com a idade às costas.

Ele há golfinhos no Tejo, ele há Lulas em Cascais, Cachorros sem Cadela e Cadelas sem Cachorro,Orcas no Algarve e Ursas que voltam à Meia Praia  mesmo que sem trela.
Enfim o Chester tinha (por isso gostei dele) toda  razão quando a todos despachava  com um  largo adeus e um sorriso amarelo.... Mas torrado.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

"HISTÓRIAS DA ÁGUA DO MAR" V

Ilha de tanegashima
Um dos Povos que mais me fascinou pelos caminhos do Mar  foi o Japonês.
A par da modernidade das suas cidades, o mais importante foi a constatação de uma  educação e lealdade que em todas os nossos contactos casuais ou não nos ficou na memória e a que não estávamos habituados. 

Era uma atenção genuína aquela com que em todas as circuntâncias nos presenteavam. Claro que de certo modo eramos considerados VIP  mas isso não era visível ser condição para que os Japoneses e Japonesas fizessem mais do que aquilo que se via ser mais do que habitual  fazer.

Era espantosa a maneira com que nos tentavam entender e curiosa a curiosidade que por nós e pela nossa história usos e costumes revelavam.
Muito mais sabiam eles dos nossos costumes, do que nós dos deles.
 Tinhamos tido alguma influência, na língua pelo que havia várias palavras trazidas pelos nossos descobridores e mercadores ao tempo.
Fomos os primeiros como Povo  a introduzir o comércio e as armas de fogo na ilha de Tanegashima,(1540)  Ilha a que os navios ou navio arribaram perdidos, depois de uma tempestade.
Em Tanegashima está instalado o complexo espacial Japonês local que visitá-mos demoradamente e em que fomos confrontados com o contributo quase desconhecido do grande publico para a descoberta do Espaço pelo Japão

Era o tempo da epopeia da descoberta devido à necessidade do aumento do comércio a partir de Malaca e da Indía e o tempo  de levar  e fomentar o Cristianismo (1542/9).
Destes acontecimentos muitos e variados factos relevantes ficaram e fazem  parte da história comum.
Das mais famosas relembro a pregação e a divulgação da palavra cristã  por S.Francisco Xavier que ainda tem vestígios em Nagasaki  e a morte dos padres Jesuítas depois de instalada a intolerância Budista.

As palavras Botan,(botão) koppu, (copo) pan, (pão) ou furasuco (frasco) têm origem Portuguesa e o Pão de ló (Kasutera) é dos bolos mais procurados por quem visita a cidade de Nagasaki.
 Saíndo do ainda que breve afloramento da história  entre os dois Países e voltando à realidade de  1983, um dos aspectos que ebtão mais nos fascinava, era a disposição para o canto livre que todos sem excepção demonstravam nas mais variadas ocasiões.
Era o tempo do karaoke (desconhecido ainda em Portugal) em que todos, (os Japoneses) praticavam como mais uma forma (nada fácil me parece) de passarem os tempos livres  uns com os outros ao até mesmo na sua actividade profissional se esta fosse por exemplo o turismo.

"Casa típica de jogo"
A vida em Osaka paltava-se na classe média  pelo trabalho diário de mais de 8 horas, seguida  de uma ida às casas de jogo electrónico nas suas mais variadas formas e em que o jogo com mini-esferas de metal parecia o mais popular (embora para nós incompreensível) e uma ida ao bar mais próximo falar com os amigos, e amigas, beber umas cervejas ou o saké aconpanhados de : Digamos petiscos 
e cantar as suas musicas preferidas.

Era por isso normal  um suposto cliente de ambos os sexos  novo ou velho sair do seu lugar consultar ao balcão o "lyrics book"  pedir a musica e um microfone e simplesmente cantar..
Ninguêm  negativamente se manifestava, apenas aplaudiam ou acompanhavam conforme as circunstâncias de momento.
Tudo era para o comum Português (nós) de ficar com os olhos em bico perante o respeito e simpatia que reinava entre aquelas pessoas quando nada de especial se por vezes comemorava ou nada mesmo se comemorava para lá do facto de estarmos no mesmo local.
Era apenas um exercício individual a maior parte das vezes.

Por todo o lado era uma constante este aspecto da vida dos Japoneses e ao fim de algum tempo era sem espanto que assistíamos a verdadeiras maratonas de ilustres desconhecidos cantarem para todos musicas do seu universo cultural com toda a simplicidade e naturalidade.

Uma vez aquando de uma deslocação oficial ao restaurante frequentado pelo Imperador e sendo acompanhados por um representante da Embaixada Japonesa como se de guia turistico  se tratasse, ficámos  mudos de espanto quando ele próprio depois da algumas explicações triviais pegou no microfone do autocarro e começou pois claro também a cantar umas musicas que dedicava com carinho a todos nós.

Parecia-nos e isso nos foi confirmado posteriormente que depois destes três pressupostos (trabalho ,jogo e karaoke) finalmente  regressavam (eles e elas) ou não a casa dependendo do tempo que ainda sobrava para o novo dia de trabalho.

                "Hotel  armário"
Uma das opções era o hotel cama muito requisitados já nessa época.

A par de um transito organizadamente caótico, de uns transportes publicos de espanto de um respeito enquanto comunidade entre si  e de uma simpatia e educação sem limites para com os de fora, estes foram alguns dos aspectos que mais gratas recordações nos deixou a estadia no Japão.








sábado, 23 de julho de 2011

"SER SOLIDÁRIO SEGUNDO KÁCUS"

A solidariedade é um estado de espírito que cada vêz mais  se encontra menos nos seres humanos.
São ligações  desejadas e mútuas entre Homens e Mulheres, entre  Famílias, Grupos Sociais, Povos e Nações.
Passa por ser altruísta  levando a que  na comunidade  ou no indivíduo as acções praticadas sejam reflectidas de modo a suprir em todo ou em parte as necessidades de um, de uns ou de muitos..
O Amor vem  ou vive perto da solidariedade mas com ela não se deve confundir.
O Amor é algo que se sente mas que se não vê de forma nítida.

A solidariedade apresenta -se-nos diáriamente na sua prática, e nas suas vertentes mais variadas de uma forma mais ou menos visível no emarahado das relações humanas.
Uma pessoa solidária  partilha ou tenta partilhar as necessidades quotidianas de outro ou outros e antevê calmamente sem esforço, a maneira mais discreta de acudir ao que de mais presente complica a vida ou o espírito dos que lhe estão perto ou  longe.

Pode existir Amor sem o uso da solidariedade  mas esta não existe por si só sem o sentimento de Amor. ao próximo ou ! Ao distante
Ambos os sentimentos, vivem  isolados ainda que estreitamente e paradoxalmente ligados.
A solidariedade revê-se qual espelho, perante a  atitude e o olhar de quem dela é alvo, quer seja dada sob a forma  de um acto de grande visibilidade  ou valor material, quer seja  por um pequeno nada mas importante pormenor.

Quando se é solidário  está-se a ser em primeiro lugar um amigo natural  e coloca despercebidamente em si as acções e atitudes  necessárias para usar sem demoras em favor do seu semelhante.
Fica mal  a quem é solidário usar qualquer tipo de embandeiramento por justamente o ser.
A solidariedade não se mostra pratica~se e é quanto mais discreta mais digna e relevante.

As vitimas da falta de solidariedade continuada seja a que nível for são por isso a meu ver pouco atentas e até pouco receptivas ao termo. Tendendo a confundir amiúde esta como uma obrigação inerente.

Entre casais a confusão presta-se a estar mais presente visto a barreira entre a obrigação voluntária e desejável  e a solidariedade no seu todo se interligarem de um modo mais próximo e por isso atreito a confusões fáceis e danosas do equilíbrio que se pretende.
Se à falta de entendimento e compreensão se juntar a falta da solidariedade  os problemas tendem naturalmente a agravar-se porque, o valor mais importante é para lá do Amor "qualquer coisa" a solidariedade.
A solidariedade junta pessoas, grupos, etnias e Povos. É parte fundamental das Sociedades e um valor acrescido para uma vida a dois.
É consensual  e não é por acaso a relevância que a solidariedade cada vez mais ocupa nas redes sociais globais.

Mas  convém contudo não confundir as coisas, ou seja !. É conveniente estarmos conscientes do afastamento saudável  dos topos de um e outro sentimento .

O Amor por defeito é um sentimento subsidiário, egoísta, egocêntrico e sempre impalpável.
Existe pelas mais variadas razões (escritas e cantadas) falsas ou verdadeiras mas nunca por solidariedade e ainda bem.
Pode ou não o Amor merecer (alêm da que lhe óbviamente está subjacente) a solidariedade livre e expontânea  de que cada um dispõe ?
Nesta prespectiva, a questão aflora a divagação de uma forma completamente diferente.

Não é obrigatória a solidariedade extrapolada  para alêm daquela que conscientemente se assume ao unirem-se seja de que forma for
 homens e mulheres.
Sou apoiante de que ambos  podem e devem ser o mais independentes possível  uns dos outros é o desejável.
Há contudo quase sempre a necessidade ainda que de uma forma menos continuada  recorrer à solidariedade que se pensa estar num ou  noutro presente pelas mais variadas razões ao longo da vida.
Por vezes não está  dísponivel a solidariedade, apenas o "Amor" está e os exemplos são muitos da falta desta nos dias de hoje quer seja entre Casais, Pais e Filhos, Famílias, Gerações, Povos,ou e Nações.

Daí !...Concluo que: Uma pessoa que não compreende a palavra solidariedade no seu todo ao ponto de ela própria se dessoladirizar é normalmente uma pessoa que da falta dela foi vitima.
Uma pessoa que da solidariedade dos outros se apossa e desvaloriza sem o notar por vezes, apenas parece manter à tona os seus interesses imediatos e futuros sendo por isso portadora de um sentido distorcido da solidariedade dos outros.

Ser solidário implica ser amigo e a amizade é sempre mas sempre, mais importante que o "amor" cor de rosa, interesseiro, possessivo e acima de tudo cego.
A pior coisa neste contexto para a solidariedade, deriva de não lhe ser dado o valor por aqueles que  por ela nas mais variadas ciscunstâncias  foram bafejados, não que esta seja uma sorte mas porque é de facto um bem.


A solidariedade é altiva, não é orgulhosa e não guarda ressentimento, é simples de dar, não se inventa em nós existe naturalmente nuns.... e noutros não.

Não é algo que se discuta ou sirva de arma de  arremesso, não é um chapéu que se usa só porque está sol, é uma forma de ser e estar que deve ser respeitada ou pelo menos compreendida por quem dela é tocada.
É o minímo que se lhe pode dar e que ela sem exigir... Exige !

sexta-feira, 22 de julho de 2011

"HISTÓRIAS DA ÁGUA DO MAR " IV



A vida em Acapulco tal como previramos foi uma caixinha  diária de surpresas e acontecimentos bizarros uns e engraçados outros.
Dos mais bizarros lembro uma saída para as compras de souvenirs (o Peso era para nós uma moeda leve) em que o "bando dos quatro" vaguearam pela cidade indo estacionar  num shopping muito América do Sul .Havia de tudo, do pequeno ao grande embuste, da musica típica aos sombreros, de joias a vistosos vestidos.
Pela minha parte lembro-me de ter comprado um vestido pois claro e uns colares de conchinhas e outras coisas do mar.Na secção de musica comprei quatro LP´S de Mariachi que era o tipico e agradavel som Mexicano.
De souvenir em souvenir lá fomos embora "carregados" de prazer e aliviados de pesos.

Reparei um pouco mais tarde que não tinha pago os discos o que foi um pequeno grande motivo de alegria e risota para o bando.
Confesso que foi quase por esquecimento, pois eu levava os LP´s debaixo do braço bem à vista de todos.
Dizia eu então «musica desta e por este preço... ainda vou comprar mais» e seguimos ao encontro de umas cervejas.

Nestes locais da América do Sul passam constantemente atrelados com bicicleta a vender sumos de tudo o que é fruta tropical.
São autênticos copos bomba para quem os compra e sobretudo bebe porque a diarreia subsequente é quase sempre certa.

Depois deste pequeno reparo sanitário, eis-nos os quatro de volta ao nosso hotel  "Sagres" alegres e bem dispostos, contentes em suma com as compras e com uma tarde bem passada.

Ainda não nos tinhamos esquecido do carnaval de boas vindas que o tempo nos tinha pregado três dias antes na noite da nossa atribulada e apressada chegada .
A nossa inocência era tanta (a minha neste caso) que percorremos exactamente o mesmo caminho agora em sentido contrário.

Azar de inocente mesmo foi o que pensei quando me deitaram a mão ao pescoço e num espanhol que eu nunca tinha ouvido falar  me arrastaram docemente de novo para o shopping dos souvenirs.
Dos quatro, três estavam de boca aberta e eu só dizia que não percebia nada de espanhol.

Apenas eu e o dono da mão que me agarrava tinhamos a noção do que se estava a passar e era coisa pouca  por sinal, apenas  faltava o pequeno pormenor de ter de pagar os disquinhos daquela musica tão bonitinha que já nem debaixo do braço levava.
Foi uma grande confusão, mas não houve violência a não ser a que decorreu depois de muitas explicações de nada ter de chegar à conclusão que o melhor era mesmo esquecer o que esquecido tinha sido e pagar com calma os Mariachis mas com o"petit"senão, de os ter de pagar mas por quatro vezes mais o preço original  e ficávamos todos amigos como dantes.
Assim foi...
E  foi de trombas que mais uma vez devido a um temporal inesperado mas provocado ainda que sem maldade !!! chegámos à baía de Acapulco agora por terra.

Foram os Mariachis mais caros que algum Português alguma vez pagou isso não tenho dúvidas e sempre que os ouvia me lembrava do peso "pesado" que representaram naquela grande e bonita cidade turística do Pacífico.
Hoje perdi os Mariachis e o vestido e os colares.
Fica a história e o peso mal gasto do passado.

PS:
O bando dos quatro foi sempre formado pelos amigos Cardoso algures no Porto,o Martins algures em Alverca,o Alves algures em Lisboa  e eu ! ...Algures por aí.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

"HISTÓRIAS DA ÁGUA DO MAR" III

A cidade de Rotterdam tem para mim um sabor especial  por várias razões: Algumas familiares.
Começando pelas não familiares, recordo os tempos  do Florim e os tempos em que víamos manifestações contra o Regime ainda Fascista  e que eram fomentadas pelos milhares de Cabo- Verdianos que já nessa época eram uma grande comunidade na Holanda.
Para nós nada habituados a grandes cidades era tentadora a visita e percorremos com denodo todas as ruas e avenidas todos os cantos e canais onde perdemos tempo e ganhámos conhecimentos ao calcorrear um mundo de costumes e modernidades de todo nunca por nós imaginado.

O nosso navio estava atracado junto a uma torre turistica daquelas que agora por todo o Mundo  existem  com o seu restaurante rotativo a irradiar luz  lá bem no alto.
Tal facto, era-nos extremamente útil para qual farol nos orientar  nas nossas deambulações nocturnas ao permitir que soubessemos sempre a direcção a que teríamos de rumar  quando o cansaço aparecesse.
Eram longas as caminhadas que diáriamente eu e um camarada mais chegado faziamos vasculhando assim tudo o que nos parecia ser novo quer fosse discoteca , pub ou botequim.
De noite a nossa procura cultural  era substancialmente reduzida a dois ou três motivos.
Saímos em determinada noite para a ronda noturna com a particularidade de irmos fardados a rigor, dava mais pica achámos na altura e afugenta um pouco mais o frio e os enganos.

A nossa actividade na prática resumia-se a entrar (quando abriam a porta) dar uma vista de olhos pelo ambiente e depois saír com uma desculpa esfarrapada, quase sempre por que os florins estavam "curtos", e o que queríamos mesmo era "cuscar"os ambientes.

A dificuldade em falar o Holandês ou seja o não falar nada o Holandês era também um dos motivos porque a conversa ou melhor a  falta dela tornava dificíl  proporcionar grandes estadias ou grandes esclarecimentos.
Navegávamos sem rumo definido mas sempre de olho na torre.
Entrávamos e saíamos de portas e portas sem fim e assim se passavam  noites de passos mais ou menos perdidos.
De admiração em admiração (para lá da falta de florins) sempre despercebidamente algo ficava na nossa memória.
Uma noite, numa viela mais estreita e com  um certo mau aspecto, vimos um negro a fazer sinais para entrarmos num prédio velho de onde saíam  em ondas alterosas sons de uma  musica indefinida  mas que  logo nos disse não ser do nosso dia a dia musical .
Subimos umas escadas de madeira até um terceiro andar prestes a cair para o segundo e atravessámos rumo ao centro da musica e ao centro de um mundo de droga e mais os condimentos a ela associados.
Era um ambiente assustador para duas pequenas almas quase virgens nestas andanças e ainda por cima de uniforme. O choque e surpresa dos convivas era quase tão grande como o nosso.

Desde corpos desnudos pelo chão, a mil ofertas de droga, de tudo um pouco tivemos de sobra e tivemos de polidamente num inglês cheio de fumo recusar apontando a medo para o facto verdadeiro de sermos militares.
Ali nos ficámos com pressa de voar  ao mesmo tempo que  uns quantos florins para duas cervejas (obrigatório) naquela situação, voaram a contragosto dos nossos bolsos.
Foram as cervejas mais rápidas que bebemos tendo em conta que poucas conseguimos por aquelas terras beber, tal era o aperto e a necessidade de mostrarmos serviço e abreviar a estadia naquele local nada apropriado para "petits enfants terríbles" como pensávamos ser.

De lá saímos, acabando por reconhecer que todos e todas tinham sido bastante simpáticos e atenciosos connosco, a farda afinal tinha sido uma boa aposta, tivemos de tudo à disposição.
Quando descemos já nem o negro (o porteiro) encontrámos, nem a direcção em que seguíamos antes era agora para nós certa.
Bem... A olhar para o ar, numa viela não é fácil descobrir uma torre se ela está a alguns kms.

Apostámos para a direita, passo curto e mais ligeiro ao mesmo tempo que nos atropelávamos nas palavras sobre os inesperados e últimos acontecimentos.
Sentiamo-nos até com uma certa dose de sorte por ter tido o previlégio de ter entrado e ter (mais importante) saído de um lugar tão "especial" e tão pouco frequentado pela fauna Lusitana que representáva-mos.
Estavam as emoções daquela noite mais do que conseguidas.
Apenas bastava agora chegar ao fim da "viela direita" e em campo mais aberto olhar para a nossa torre e para o nosso beliche merecido mesmo, mesmo junto a ela , quatro e meia da manhã, o frio estava-se a tornar pesado.
A passo vigoroso lá fomos pelo escuro que parecia não ter fim.

Estava contudo escrito que naquela noite e naquela rua as surpresas ainda não tinham acabado e nisso reparámos quando entre o ruído dos nossos passos e conversas se começou misteriosamente a intrometer um trinar que só podia ser Português e que parecia  querer tropeçar em nós saído duma madrugada agreste e fria que despontava num horizonte que ainda não vislumbrávamos.
Primeiro secos e repartidos pelo vento, depois mais cheios e quentes, depressa perdemos as dúvidas de que pairavam pelo ar em crescendo os sons de guitarrras Portuguesas concerteza  acompanhados do murmúrio que se fáz quando em grupo trauteamos o fado.
E era de Coimbra dissemos estugando o andar.
Cantava-se o fado às cinco da manhã na Casa de Santarém em Rotterdam  e "Coimbra tem mais encanto na hora da despedida".
Nessa porta entrámos transbordantes de frio e confiança. Lá dentro o fado enchia o ar e os nossos amigos de bordo meio bebidos e num nevoeiro de fumo acompanhavam tão suave quanto possível o conjunto de guitarras e o fadista do momento.
Acabámos por ficar para aquecer e para esquecer.
Giravam por ali não florins mas escudos, o que nos deixou mais à vontade, a cerveja passou de cara a barata e a nossa disposição de caminhantes com sorte a sortudos caminhantes.
Era manhã e mais dois passos menos firmes deixou-nos à vista da torre distante e que tão perdida estivera antes de "Coimbra" encontrarmos.

Passados desde esses tempos 34 anos, também quem sabe se aquela torre serviu de guia para  quem me é muito querido na vida e que dançando passou correndo... pelas ruas de Rotterdam .