Arrumei o meu saco cama à porta do banco e lar.
É sábado o tempo está tropical vou ensonado de nada para a praça da minha alegria.
É debaixo desta amoreira centenária que me abrigo dos excrementos dos pombos
alargo o meu olhar para a excrementaria vida dos que por aqui já são restos com eu.
Já bebi uma cevada e trago um pouco de côdea amarga que me acalma a vontade.
Chove uma chuva envergonhada como a senhora que de chinelos sem condizente par
carrega dois coloridos sacos de coisas da madrugada para não parecer tão mal
passam os casais do costume calados e de mão dada a caminho da missa do dia.
Um idoso como eu está mais lento devido à carga de papelão que carrega nos ombros
alargo o meu olhar para um par de rapazes que se beijam como se tudo fosse seu.
Já só falta ver a saída dos noivos entre flores e arroz e pombos a gritar - «arredai» felicidade.
É assim ao sábado esta praça entupida de trabalho solidão e merda.
Uns a resistir outros a desistir outros a fingir e a chuva ao sol a caír.
A praça dos votos e dos devotos dos desterrados e de quem nada herda.
A chuva intermitente lava-me a alma mas não lava a raiva que trago no peito
abençoa os noivos admirados com tanta e efémera fartura de arroz de pombo.
Guardo para mim contudo este tempo enamorado do sonho e desajustado no jeito.
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