segunda-feira, 20 de março de 2017

"DESTINAÇÃO"














Sentada no banco quase seco
o meu olhar húmido demora-se

nos pombos que namoram distraídos.
Vivo aqui.
Sou banqueira do meu saco de palha
parco de fé com dois nacos de pão
um já seco outro ainda não.

Estou muito bem não fosse este frio
que me trespassa o corpo falhado
e me seca os lábios que já não beijam

seja talvez por ter o rosto molhado.

Precisava de um banho de amor
se estão esquecidos de mim

que estejam.
Passam outras crianças a rir
de mãos dadas com a esperança
como passei assim também

que inda tenho lembrança.
Empresto amor se me calha ocasião
se a fome me aperta
sem promessas só moedas por bem
e alguns dias de renovada ilusão
que guardo na caixa da capela
que fecha à hora certa
se "Deus" cumprir o horário.


Caí neste banco não caí no chão
não se pode cair onde se já caiu

ao contrário.
Perdi até a noção se tenho coração
revejo-me na mente dos sonhos que pari
entremeados de pancada
nos dias e noites de desamor 

que não pedi.
Já são todos crescidos para nada.

Só a idade e o medo me amparam
nesta praça inteira desgraçada


Tenho muito pouco para dar
perdi-me do que é receber.
Os pombos voaram para o adro da capela
que os noivos saem ao som

do arroz.
Oiço gritos de desejos nos sorrisos às janelas.
Tive um dia assim de branco e rendas
ele de fato cinzento como o dia
oferta do Pai que lhe batia

e dava prendas.
Tudo passa por mim
agora só
neste banco meu jardim de dó e sentidos
que eles já são crescidos.

 

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